A INTERNET PARA VOCÊ É TV OU BIBLIOTECA?

Gosto dos diálogos comuns, em que as pessoas conversam entre si em tempo real. Somente estas pessoas que estão presentes interagem, trocam e convivem. Há conexão entre elas, relacionamentos que passam por fases e uma comunicação que vem de dentro destas pessoas. Como interferência pode haver um parente curioso escutando atrás da porta, uma sirene na rua, uma criança que chega correndo, a campainha que toca ou o gato pedindo colo. Uma delas está em uma pirâmide e quer te levar junto, outra te interrompe para falar ansiosamente sobre problemas de um relacionamento, sempre tem a que quer te converter para a religião dela ou descrever o filme que acabou de assistir.

Tudo isso vem de fora, mas de certa forma faz parte da vida das pessoas que estão ali presentes e envolve outras pessoas. E quando envolve robôs, algoritmos e instituições gigantescas e poderosas que colocam seus interesses comerciais acima de tudo? Ainda estamos aprendendo a lidar com isso e deveríamos ter pressa.

Sinto falta de estarmos presentes nas situações importantes da vida real, vivendo de fato, conscientes do que está acontecendo. Contato com a natureza, momentos ricos em estímulos aos cinco sentidos, experiências que nos preenchem e nos levam a evoluir, assuntos discutidos em profundidade, descanso verdadeiro. Às vezes desperdiçamos esse tipo de coisa por estarmos constantemente distraídos e em estado letárgico rolando telas, pulando compulsivamente de uma foto para outra, interrompendo um trabalho para ver uma notificação fútil. Seria melhor virarmos páginas de um bom livro que escolhemos, vermos menos detalhes da vida alheia, trabalharmos com mais foco, sermos interrompidos só por quem permitimos.

Grandes empresas nos conhecem melhor do que nós mesmos (também ganham da mãe e da terapeuta), são capazes de prever nosso comportamento, influenciar nossas opiniões e vender nossos dados. Os robôs são rápidos, contam com recursos tecnológicos avançados e grande capacidade de armazenamento. E quem os programa e controla são pessoas que deveriam ser responsabilizadas pelos seus atos.

Se você assistiu documentários como Dilema das Redes, Privacidade Hackeada, A Era dos Dados – Monitoramento e lembrou-se do que só tinha visto em filmes de espionagem ou de ditadura, sabe que o nível de vigilância atual é profundamente invasivo. Dá menos trabalho esconder as câmeras e microfones, porque já estão por toda parte nos sistemas de segurança e nos celulares. Nós estamos vendo e ouvindo o conteúdo das telas e nos esquecemos que estamos sendo vistos, ouvidos e monitorados até quanto tempo passamos em cada tela.

Isso se acentua cada vez que você recusa um serviço pago e ignora os altos custos que uma empresa tem; pagando você reduz as chances dela ter que vender os seus dados (ainda os usará em proveito próprio). Você facilita isso entrando em diversos sites e aceitando políticas de privacidade sem ler, preenchendo todos os formulários de sorteio, compartilhando cada passo seu ou lendo notícias através das redes sociais.

“Então não posso relaxar e usar o celular para espantar o tédio ou a solidão?” Sempre que faz isso, você está se entregando a ser controlado, manipulado e influenciado. Principalmente induzido a gastar o máximo de tempo online e gastar o máximo de dinheiro possível. Você está se fechando na bolha de conhecimento que te mostra mais do mesmo e te deixa mais vulnerável a boatos, polarização e teorias da conspiração. Você também é bombardeado com as coisas que o anunciante pagou para você ver através da empresa que te conhece como ninguém. Quanto mais você aceita sugestões de conteúdo, mais você assume uma postura passiva como fazia ao sentar-se diante da tv, só que agora pior por ser personalizada. Você será incentivado a se comparar a outras pessoas, a usar filtros e maquiar sua realidade, te levando a sentir-se mal.

Se a nossa atenção é o foco destas grandes empresas, por que não é o nosso foco? Elas nos lembram que a atenção está ligada ao tempo e ao dinheiro, devemos direcioná-la ativamente para as coisas certas. Se as grandes empresas se dedicam tanto a conhecer nossas emoções e comportamento, por que não fazemos isso todos os dias? Se alguém disposto a nos viciar sugere algo, não seria inteligente observar, questionar ou recusar? A privacidade e os direitos a escolher com quem compartilhar nossos dados e em que circunstâncias deveria ser o normal. A publicidade pode acontecer, mas de maneira honesta, transparente e não o tempo todo.

Se a Internet é uma fonte inesgotável de conhecimento, busquemos os cursos, as leituras, os vídeos que agregam. Como uma biblioteca, que você escolhe com quem se sentar e que horas entra e sai. Se as redes sociais reúnem pessoas de vários tipos, por que não nos conectar com quem nos faz bem e ouvir os diferentes que nos façam refletir e expandir nossos horizontes? Se os grupos virtuais permitem trocar ideias e depoimentos com pessoas de diversas localidades, vamos nos unir em torno de interesses ou problemas em comum. Cabe a cada um de nós colocar limites de tempo, horário e tipo de coisa que nos atrapalha. Podemos criar conteúdo em vez de somente consumir, como estou fazendo aqui.

Andréa Voûte

As emoções são cavalos selvagens. Para que domar?

A frase que eu mais gosto para definir as emoções é que elas são cavalos selvagens.  Uma das características mais interessantes dos cavalos é justamente que nunca deixam de ser selvagens em sua essência, mesmo os mais “mansos” não podem ser completamente dominados.  Vamos imaginar então que cada uma de suas emoções seja um cavalo selvagem. 

Ignorá-lo poderia resultar em mordidas ou coices, entre outros prejuízos imprevisíveis gerados por negar que ele está ali.  Você pode tratar cada cavalo com o carinho e respeito que todos merecem, mesmo os mais difíceis de lidar, afinal ele é “seu” ou, na verdade, está sob a sua responsabilidade.  Cada emoção que você sente faz parte de você e deve ser conhecida e aceita, lide com ela de forma consciente. Ouça o cavalo, observe como ele realmente é para que possa entendê-lo bem.

Logo você começaria a domar este cavalo, sempre com gentileza e paciência, lembre-se que há vários métodos de doma e alguns criam traumas. Um dia finalmente se estabeleceria um bom relacionamento, em que você seria a autoridade, com as rédeas nas mãos.  O roteiro do passeio e a velocidade seriam escolhas suas, passo calmo para descansar e apreciar a paisagem ou delirante galope ao vento…  Não vale perder a gentileza depois de montar, o respeito deve continuar, até porque o cavalo sabe instintivamente de coisas que você não sabe.  Não forçarias o cavalo e ele não te derrubaria propositalmente, mas ainda assim procurarias aprender a cair caso isso acontecesse.  Terias sempre em mente que o animal é dotado de instintos e sentidos bem aguçados, pode avisar-te de perigos escondidos. Lembrarias de deixá-lo correr solto eventualmente, sentindo o prazer de admirar a força e o vigor da natureza. 

Quais são os cavalos selvagens que você tem a domar que estão afetando sua vida financeira mais diretamente? Medos exacerbados de perder dinheiro, o emprego ou o cliente?  Preocupação constante em ser roubado ou enganado?  Pânico diante do novo e da velocidade das mudanças?  Carência doentia de atenção, afeto ou poder que te leva a gastar muito mais do que deveria?  Ansiedade descontrolada que não te permite esperar nem um dia a mais e te enterra em lamaçais de dívidas?  Culpa por ser próspero/a, dúvidas torturantes sobre ser merecedor de riquezas que as mantém longe e inacessíveis?  Aversão ao capitalismo ou ao lucro que inviabiliza o seu negócio?  Euforia e excesso de confiança que causaram a sua quebra no mercado de risco? Quantas vezes você paralisou ou se atrasou em coisas importantes por medos que nunca chegam a se concretizar e probabilidades que nem eram tão altas?  Quantos inimigos gerou a ambição desmedida que atropela e derruba tudo para chegar aonde quer, alimentada por insaciáveis desejos a realizar urgentemente?  Às vezes basta um cavalo nervoso para prejudicar todos os outros.

Não vejo como ter sucesso nas finanças enquanto houver pendências emocionais sérias.  Ao atingir um equilíbrio, você terá o entusiasmo de quem realizou alguns sonhos e pode sonhar mais.  Perfeito? Não, o imperfeito sob controle.  Viverá a plenitude de sua saúde financeira, investindo com riscos calculados, empreendendo com mais confiança, experimentando a alegria de doar, buscando as oportunidades certas, em um estilo de vida que te proporcione emoções agradáveis. 

A última letra do alfabeto

Somos classificados por religião, nacionalidade, nível socioeconômico ou cultural, signo do zodíaco e muitos outros grupos. Um dos fatores que pode afetar a personalidade de maneira global é a geração à qual pertencemos. E nunca houve tantas gerações convivendo em família e no trabalho. A geração Z é formada por nascidos entre os anos 90 e 2010, depois já é geração Alpha, recomeçando a contagem.

De modo geral, acredita-se que cada geração seja mais livre do que a anterior. Financeiramente nem sempre, os seus pais da geração X ou Y estavam em situação melhor. Segundo pesquisa do SPC divulgada em agosto de 2019, a maioria dos jovens adultos Z abusa do crédito e cerca de 1/3 já teve o nome sujo. Estourando os limites do cartão e cheque especial com impulsos de consumo, sem poder contar com a previdência social amanhã ou com o emprego certo hoje, eles montam seus próprios negócios. Muitos deles operando no vermelho e vivendo de empréstimos e aportes de capital.

O vício do smartphone e das redes sociais pegou a todos meio despreparados. Tanto a geração Z de nativos digitais como seus pais X e Y fazem uso abusivo da tecnologia e estão tentando equilibrar as coisas agora, repensando a sua relação com as máquinas. Ouvir música, conversar, informar-se, assistir vídeos, tirar e compartilhar fotos e jogar são as atividades mais comuns.

Os sonhos de consumo das gerações anteriores como casas e carros luxuosos, roupas toda semana e emprego seguro estão sendo substituídos por viagens, festas e tecnologia. Não precisam possuir se podem compartilhar ou alugar. A família tradicional com papai, mamãe, criançada, cachorro e jardim não é tão atraente para a geração Z quanto a liberdade de experimentar diversos tipos de relacionamento e moradia sem muito apego. Se os animais eram maltratados, hoje alguns são humanizados e ocupam o lugar dos filhos. Muitos Zs não terão filhos e dos que tiverem, a maioria precisará da ajuda dos filhos para sustentar-se em sua longa velhice e não deixará qualquer patrimônio de herança. É bom a geração Alpha se virar…

A educação financeira e as fintechs estão mais presentes na vida da geração Z. Mais da metade realiza um controle financeiro, tem conta bancária e dinheiro guardado (a maioria na caderneta de poupança). Demoram a conquistar a independência, mais da metade ainda mora com os pais, mas possui fonte de renda e contribui para o sustento da casa. Mesmo depois de sair de casa ainda querem a comida e a roupa lavada, talvez uma mesadinha…

O mercado de trabalho é inconstante, profissões tradicionais desaparecem e os jovens Z podem inventar uma nova atividade do zero com ideias incríveis. Para o seu futuro as qualidades humanas como paciência e a inteligência emocional para trabalhar em equipe podem valer mais do que um diploma universitário de peso. Vamos fechar o alfabeto com chave de ouro, geração Z?

Bom negócio de verdade

Ah, os bons negócios… Eles mexem com a gente de uma maneira muitas vezes incontrolável. Só quero garantir que seja mesmo um bom negócio para todos.

Nos últimos meses do ano, a alegria de gastar soma-se ao prazer de aproveitar boas oportunidades e sentir-se esperto. Os eventos se acumulam e agitam nossa vida: feriados, Black Friday, Dia do Solteiro, Décimo-terceiro salário, PLR, Natal, férias. Mas a vida não acaba em dezembro (esperamos que não) e queremos que você comece bem o ano e sem dívidas. O fluxo do dinheiro deve estar pronto para pagar tranquilamente o IPVA, material escolar, Carnaval ou simplesmente ter as finanças equilibradas.

Caso o seu negócio venda menos em dezembro ou janeiro, é recomendável cautela. Se o décimo-terceiro salário for a sua única renda extra, valorize esse dinheiro e use-o com sabedoria.

Promoção, liquidação, desconto, sale, off

Qualquer palavra que signifique uma redução do custo é persuasiva a ponto de ser o maior gatilho de consumo que existe. Hormônios são liberados na corrente sanguínea, supervalorizamos o produto / serviço que queremos, criamos justificativas lógicas para a compra. A coisa começa com impulsos e pode chegar a uma verdadeira histeria, não nos deixemos contaminar pela “manada”.

Temos instintos ultrapassados: de quando tudo era de difícil acesso ou de quando os preços subiam vertiginosamente de um dia para o outro, então diante do produto certo era preciso agir rápido. Temos oscilações de humor, cansaço acumulado, mudanças hormonais e momentos de fragilidade – hora de evitar o contato com as tentações financeiras.

A loja está fazendo o papel dela sendo persuasiva para te atrair a gastar e não tem como saber da sua situação financeira. Você é o único responsável por saber se pode agora e dizer sim ou não. As promoções continuarão a existir e essa não é sua única chance, melhor a frustração da espera do que a culpa depois. Espere o ano que vem ou as liquidações de janeiro que oferecem ótimos descontos também.

O que pode ser perda de tempo, dinheiro e energia:

Oferta do desnecessário – comprar o que não precisa só porque está barato. Comparado ao zero que estava planejado, deixou de ser barato.

Usar o cheque especial ou o cartão de crédito na compra – consumo é o pior uso do crédito. Se um desconto de 50% causa dívidas de 15% ao mês em juros, a vantagem virou complicação.

Agir de forma irresponsável usando um valor que estava comprometido com outras contas importantes e assim prejudicar suas finanças como um todo.

Cair em ciladas de lojas falsas ou Black Fraude (aumentam o preço para depois abaixar) muito comuns nesta época.

A cada presente comprado, outro para você que merece, claro. Será que você merece também mais um gasto não programado te atrapalhando?

Desperdiçar também o produto em si e o espaço que ele irá ocupar, comprando algo que nunca será usado. Tudo que se produz tem alto custo para o meio ambiente do nosso planeta, especialmente os eletrônicos.

Ficar muito tempo sem organizar as suas contas, os seus armários e as suas tarefas te deixa meio sem noção do que você realmente precisa e pode.

O que pode ser mesmo uma oportunidade imperdível:

Cursos, workshops, palestras e assinaturas que você vai usar.

Investimentos em condições especiais: descontos em tarifas, remuneração maior, valor inicial reduzido. Agora sim, finalmente ter o prazer de cuidar do futuro.

Viagem que você faria de qualquer forma, portanto gastar com experiências e economizar ao mesmo tempo.

Presentes de natal que já estavam planejados, dentro da lista e do orçamento.

Quitar dívidas com desconto e fechar o ano mais livre. Melhor sair da Black List do que entrar na Black Friday!

É um produto ou serviço que você conhece bem e acompanha o preço há meses, sabe que o desconto é real.

Para um check-list de compras em geral que também serve para promoções, você tem o meu artigo “Por que comprar?” .

texto Andréa Voûte
imagem free de Dan Burton para Unsplash

Risco – start e stop

Conceitos usados no mercado financeiro podem e devem ser aplicados em gestão de empresas, de projetos e qualquer situação pessoal ou profissional que envolva riscos.

Start ou Gatilho de entrada é um fato, um número ou uma situação que seja favorável ao sucesso, portanto no caso do gatilho tornar-se real, você deve entrar no negócio, comprar ou investir. Um exemplo simples seria saber de futuros empreendimentos vizinhos ao imóvel que você pensa em comprar ou construir. Stop ou Gatilho de saída é um indicador de que algo vai mal e tende a piorar, te dando prejuízo ou problemas legais, devendo ser respeitado para você se retirar do negócio. Um exemplo é perceber que o valor atual está muito acima do valor justo.

Ora, se foi você mesmo quem determinou o gatilho, então é óbvio que você saberá a hora certa de comprar ou vender e não precisa do gatilho! Isso parece bonito na teoria, mas na prática não funciona quando os valores são maiores, como é comum no mercado de risco. Saber a hora de parar é uma arte que exige muito autocontrole. As emoções interferem no conhecimento técnico e você não consegue fazer o que deveria… Ex: no start o excesso de confiança que o faz entrar antes da hora ou o medo que o paralisa e impede de entrar na hora certa, no stop a recusa em assumir o erro e portanto o prejuízo ou a ganância que o impede de sair durante a alta. Mesmo usando Start e Stop não há garantias, mas aumentam muito suas chances de sucesso.

Digamos que você simpatize com um novo grupo e comece a frequentá-lo. Mas tem certas desconfianças e estabelece três sinais de perigo:  1. as pessoas que saíram do grupo são maltratadas, ameaçadas, etc;  2. depois de um tempo lá, mudam radicalmente de comportamento, fazendo coisas que nunca fariam só porque o líder mandou ou porque todo mundo faz;  3. a maioria dos integrantes vive pior do que vivia quando entrou. Você só tem consciência disso antes de entrar, depois o grupo se adapta e parece tudo normal. Chegando nisto, tem que sair, não é para ficar filosofando ou dando desculpas, foi o seu lado inteligente e lúcido que decidiu que é o caso de sair e pronto.

Depois de estar emocionalmente envolvido, apegado e comprometido, você perde parte da clareza mental. Você pensa: já fiz tanta coisa, agora não vou desistir. Ou: admitir que fracassei seria terrível. Ou ainda: Agora que já estamos quase chegando e o sucesso pode estar na próxima esquina, vamos em frente. Ou vai cozinhando aos poucos na água do abuso, sem perceber, como a história do sapo na panela (se tivesse entrado direto na água fervendo, teria fugido).

São os seus limites! Os bandidos tem limites, as prostitutas tem limites, os políticos tem limites. Todo mundo tem um ponto do qual não quer ultrapassar e ele impacta no seu caráter e sua honra. Já sabemos que tudo que fazemos de errado aparece mais e dura mais na memória.

Os gatilhos podem ser em tempo, dinheiro, sintomas de saúde, abusos, stress ou qualquer outra condição que mude significativamente o jogo. Por exemplo, um negócio. Se daqui a dois anos a empresa estiver viva e saudável, eu entro. Se for escalável, eu invisto. Se determinada pessoa entrar na sociedade, eu saio. Se me causar insônia por uma semana seguida, eu vendo. Se o endividamento chegar ao valor X, eu fecho.

Saiba o que você realmente quer da vida, o que te motiva e inspira. Mantenha isso em mente todos os dias e construa seus gatilhos de entrada baseados em critérios reais. Busque tudo o que harmonize com os seus valores, seus propósitos e aquilo que você tem de melhor. Agarre as oportunidades e envolva-se com o que acrescenta e constrói, o que enriquece em todos os sentidos a você e ao máximo de pessoas possível.

Defina claramente o intolerável, o inadmissível, o inaceitável. Você pode se adaptar, isso é inteligente e necessário, mas só até a página dois. Superar os seus limites pode ser a coisa mais linda ou pode ser fatal, já que risco e retorno andam juntos. Defina o absurdo, o escravizante e o insano e lembre-se bem dessas definições. Você pode mudar de ideia ou até amadurecer e expandir o limite, mas ele ainda existirá. No caso de tudo estar tão diferente a ponto de o gatilho não fazer mais sentido, pelo menos analise, mude a estratégia e tome uma atitude.

Escolhas da vida moderna

Viver bem neste mundo cada vez mais complexo não acontece espontaneamente. Se você já foi contaminado pelas síndromes da vida moderna, deve se sentir culpado por não ler toda a informação disponível, não dar a sua família o tempo e conforto que ela merece, não ter o sucesso profissional ou um currículo invejável, não ajudar a todos os que precisam de você e contribuir para salvar o meio-ambiente, não participar de tudo o que está na moda, como bares, viagens e, claro, o seu visual.

Estar diante de muitas opções requer uma maturidade, ou então você se sentirá eternamente frustrado por não dar conta de tudo. Ainda não conheci uma pessoa sempre admirável e que tenha sucesso em todos os aspectos da vida. Atenção amantes da liberdade, estas mudanças proporcionam uma oportunidade única de exercer o poder de escolha, de desenvolver um estilo de vida próprio, baseado em seus valores e sua personalidade. Que maravilha ter acesso a tanta informação, tecnologia e conforto.

As gerações anteriores precisavam viver de uma determinada forma por não terem escolha, os pais ou outras autoridades tomavam as decisões por eles, de carreira a casamento. Não tinham um leque tão grande de opções nem tantos obstáculos a enfrentar e, quando erravam, não eram tão cobrados por isto. É verdade que a limitação não é uma maravilha, mas o excesso é exaustivo.

O que nos aprisiona hoje? Continuamos deixando que outras pessoas façam as escolhas por nós, muitas vezes de maneira sutil. Quantas coisas fazemos sem saber o motivo, porque todos fazem, para agradar ou impressionar? Quantas pessoas comuns seguimos, esquecendo que elas não são exemplo em tudo (as vezes só tem uma boa comunicação)? Quantas loucuras financeiras fazemos gerando problemas para o nosso futuro e de nossa família? Nunca houve tantos vícios e eles também nos escravizam.

Cada decisão gera dúvidas, responsabilidades, consequências, possíveis arrependimentos, frustração por dizer não às outras opções, novas mini-escolhas associadas. E isso impacta diretamente na nossa felicidade e produtividade. O mais importante é ser realista e humilde para reconhecer que não precisamos e não podemos tudo – não temos tempo, dinheiro e energia disponíveis para ficar com todas as opções. Melhor escolher bem só o que é realmente importante como moradia, companhias, carreira, viagens, tipo de alimentação e exercício. As micro decisões podemos reduzir, simplificar e automatizar. Este é o meu segredo, e o seu?

TEM O SUFICIENTE PARA TODOS?

Se você acompanhou os números divulgados no Dia da Água e Dia da Terra, já tem uma ideia dos problemas climáticos e ambientais atuais. Estamos abusando do limite da Biocapacidade do planeta, ela tem diminuído pela degradação dos solos e mares. Já estamos roubando recursos das próximas gerações.

A pegada ecológica é medida nas empresas, cidades, países e pode ser medida por pessoa. Cada país é avaliado como credor ou devedor do meio-ambiente. Se todos consumissem como os americanos, precisaríamos de 5 planetas Terra. Um paulistano típico gasta 200 litros de água e produz 1 kg de lixo por dia. Os 20% mais ricos do mundo consomem 76% dos bens e serviços da Terra, a classe média que representa 60% das pessoas é responsável por 20% do consumo e os 20% mais pobres consomem somente 4% dos bens e serviços. Os números só não são piores e a devastação do meio-ambiente só não é maior porque há países muito pobres com baixo consumo e emissão de poluentes, como algumas regiões do continente africano, que só tem 15 litros de água por pessoa por dia em média.

Calcule a sua pegada ecológica em termos de água, energia, alimentação, consumo, descarte e transporte no teste da WWF:  http://www.pegadaecologica.org.br/2015/index.php  e analise sua rotina para identificar se nela há algumas destas práticas:

Consumismo: refere-se a um modo de vida orientado por uma crescente propensão ao consumo de bens ou serviços, em geral supérfluos, em razão do seu significado simbólico (prazer, sucesso, felicidade), frequentemente atribuído pelos meios de comunicação de massa. Quando se torna doença, chama-se Oniomania.

Obsolescência programada: é a decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não-funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto.

Ostentação: é o ato de, com muito excesso e orgulho, exibir realizações, posses ou habilidades de si próprio, com vaidade e pompa, bens, direitos ou outra propriedade, normalmente fazendo referência à necessidade de mostrar luxo, riqueza ou poder.

Avareza: é a dificuldade e o medo de perder algo que possui, como bens materiais e recursos. Uma pessoa avarenta não quer abrir mão do que tem mesmo que receba algo em troca, tem cuidado com seus pertences e é egoísta.

Colecionismo: é a prática que as pessoas têm de guardar, organizar, selecionar, trocar e expor diversos itens por categoria, em função de seus interesses pessoais. Há vantagens como aprender a classificar e aprender sobre o objeto colecionado, e há desvantagens por gerar acúmulo em excesso.

Ganância:  opondo-se à generosidade, é uma vontade de possuir tudo que se admira para si próprio. É um desejo excessivo direcionado principalmente à riqueza material ou poder. Com ela você pode corromper terceiros e se deixar corromper, manipular e enganar chegando ao extremo de matar.

Alguns movimentos estão surgindo para solucionar os problemas atuais, escolha os seus:

Minimalismo: Com o lema “menos é mais”, o minimalista reduz a quantidade de bens, de compras, de serviços, mas não necessariamente reduz os gastos, o conforto e o luxo. Ele só evita os excessos, a complexidade e o desperdício. Tem estreita relação com o Essencialismo, do livro de Greg McKeown, que busca fazer menos mas melhor

Frugalismo: O frugalista sim, gasta menos, normalmente é naturalista e fica no básico. Ele consome menos, mas pode ser um acumulador porque reaproveita, conserta e reutiliza coisas. Muitos desenvolvem autonomia e habilidades manuais no estilo DIY (Do It Yourself ou faça-você-mesmo). Um exemplo é a Compostagem, que transforma restos de comida em adubo e nos aproxima do Lixo Zero.

Simplicidade voluntária: ter uma vida mais simples voluntariamente e voltar-se mais para o seu interior, mais para o “ser” do que para o “ter”. Muitos dão menos atenção ao lado material da vida para focar no emocional, intelectual ou espiritual.

Consumo consciente: Ao ter consciência das consequências na hora de escolher o que comprar, de quem comprar e definir a maneira de usar e como descartar o que não serve mais, o consumidor pode maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos, desta forma contribuindo com seu poder de escolha para construir um mundo melhor. Uma meta do consumidor consciente é praticar os 7 Rs da ecologia: repensar, recusar, reduzir, reparar, reutilizar, reciclar e reintegrar.

Slow food: em oposição ao Fast Food, o Slow Food (em inglês, literalmente, “comida lenta”) é um movimento e uma organização não governamental fundados por Carlo Petrini em 1986, tendo como objetivo promover uma maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o meio ambiente.

Economia solidária: é definida como o “conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo solidário, troca, comércio justo, poupança e crédito – organizadas sob a forma de autogestão. Trata-se de uma forma de organização centrada na valorização do ser humano e não do capital, caracterizada pela igualdade. Ela está ligada à Economia Colaborativa e o Capitalismo 2.0, que preferem dividir e colaborar do que acumular, criando novas formas de fazer negócios.

Empresa social: busca associar a expertise do mundo dos negócios empresariais (administração, finanças, economia) com a expertise social das organizações sem fins lucrativos, trata-se de um híbrido dos chamados segundo e terceiro setor, denominado por alguns como setor 2.5 (dois e meio).

Feiras de trocas: são uma maneira engajada e divertida de repensar a forma como consumimos, envolvendo adultos e crianças com o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre as consequências do consumismo, e minimizar e prevenir os prejuízos decorrentes dele.

Referências: Wikipedia, Criança e Consumo, Slow Food, Ministério do Meio Ambiente.

Direitos não muito direitos

O Código de Defesa do Consumidor foi um grande avanço sem dúvida. A dúvida é sobre os abusos que alguns consumidores cometem. Será que sempre devemos fazer o que temos o direito de fazer? Eu acho que depende do caso.

Consumir somente um café e uma água e ficar horas trabalhando ou batendo papo no café não é proibido. Devo me lembrar que ali não é minha casa e que custa muito caro manter uma infraestrutura de móveis, pessoas, limpeza, alimentos, bebida, empresa aberta, etc.

Se a minha conta vier errada eu posso exigir que o valor cobrado a mais seja devolvido em dobro. Será que foram tantas perdas e danos assim que justifiquem dar esse prejuízo aos proprietários do estabelecimento?

A loja claramente errou na etiqueta do produto colocando um dígito a menos e eu tenho o direito de levar o produto pelo preço da etiqueta. Posso, mas não preciso.

Comprei um vestido em loja virtual, desfilei com ele por um dia e devolvi no dia seguinte. Estou exercendo o meu direito, mas não é direito fazer isso.

Saí e passei em vários lugares. Quando chego ao carro que deixei no estacionamento, vejo que o meu celular novo e chamativo sumiu, eu não faço ideia de onde o perdi e perguntando em todos os lugares ninguém encontrou. Vou responsabilizar o estacionamento só porque ele tem um seguro?

Perdi a comanda e não me lembro exatamente do que consumi, mas o garçom se lembra e não é nada absurdo. Vou discutir com ele?

Fiquei muito irritada com um defeito em meu eletrodoméstico e a empresa está demorando para solucionar. Vou reclamar na Internet e acabo me excedendo nos comentários. Queria o eletrodoméstico consertado ou vingança?

Recebi um cartão de crédito sem tê-lo solicitado. Preciso processar o banco por isso?

Estar claramente desmotivado e improdutivo no trabalho atual e ficar provocando o empregador para ser demitido ao invés de pedir logo para sair pode até ser legal, mas é correto?

Se abusarmos de nossos direitos, podemos acabar perdendo alguns deles, abrindo espaço para que amanhã a lei mude ou até sendo obrigados a indenizar os danos que causamos ao fornecedor. Melhor pensar bem se não há formas mais limpas e pacíficas de economizar.

Andréa Voûte

Leve x pesado

Imagine aquela pessoa que se orgulha de não ser materialista, que tem horror a mesquinharias e raramente fala sobre dinheiro, especialmente à mesa. É uma pessoa leve, alto astral, que sempre acredita que as coisas vão melhorar. Prefere assuntos agradáveis e boas notícias, adora humanas e odeia matemática. Não procura problemas, evita conversas pessimistas, irrita-se com gente que fica falando o que ela não pode fazer. É do tipo que segue o coração, que afirma que pessoas são mais importantes do que coisas e para certos assuntos não se faz conta. É a alegria da festa e sempre topa um programa de última hora. Está sempre ligada no que realmente importa na vida e o dinheiro não compra – o lado espiritual e humano – nunca no material. Algumas decisões mais racionais ela vê como vender a alma ou ser uma pessoa fria. Orçamento prende, lucro é pecado, economistas são tensos, financistas são medrosos e economizar não resolve.

Corta para 20 anos depois. Na vida adulta, ela tem dependentes e contas para pagar, passou por crises financeiras e altos e baixos na carreira como a maioria de nós. Ela não quis administrar o dinheiro e hoje administra dívidas. Ela não planejou a aposentadoria e agora tem perspectiva de uma velhice difícil. É refém das contas que não gostava de fazer, é obrigada a calcular e recalcular cada passo. Os cortes no orçamento dos quais tanto fugiu a alcançaram e a obrigaram a escolher que contas não pagar, agora com menos liberdade. O dinheiro que desprezava é de “quem” ela muitas vezes passa dias correndo atrás. As pessoas a quem ela realmente valoriza foram prejudicadas direta ou indiretamente pelas suas dívidas. Os graves problemas financeiros abalaram os relacionamentos, o sono, a saúde, a reputação, autoestima e até a fé, por sentir-se culpada, revoltada e impotente ao mesmo tempo. Ironicamente, quem era tão leve e se alegrava com isso, hoje é uma pessoa pesada e tensa. Quem não queria prender-se a planos e limitações, hoje não consegue voar.

Ficção baseada em fatos reais, coisas que já vi e ouvi inúmeras vezes. Não dá para ser tão desligado de dinheiro assim, a não ser que você esteja disposto a largar tudo dos tempos atuais e da vida comum. Organize as finanças começando hoje!

Andréa Voûte

(imagem free de Jenelle Ball para Unsplash)

Equilíbrio do equilíbrio

Eu considero as palavras “tudo”, “nada”, “nunca” e “sempre” pesadas, da mesma forma que fica estranho colocar “meio”, “talvez” ou “mais ou menos” em todas as frases. Muitas pessoas acreditam ser importante ter equilíbrio em tudo, mas vamos pensar como seria o equilíbrio do equilíbrio. Soou desequilibrado para você?

Se eu pegar um sonho e transformá-lo em meta, focando meus recursos nela, há grandes possibilidades de ele ser atingindo. Dedicação e persistência são qualidades que ajudam a realizar coisas e isso costuma trazer muitos benefícios. No entanto, algumas situações exigem um desvio, uma adaptação, um momento multitarefa. A meta pode tornar-se impossível ou inadequada. De qualquer forma, toda experiência é válida.

Neste mundo competitivo, fazer as coisas pela metade pode causar muitas perdas e muitos danos. Trabalhar em algo que não sabemos fazer, por exemplo, toma um tempo enorme e gastamos muita energia para obter um resultado que, com certeza, será medíocre e, quem sabe, poderá até nos custar o emprego. Há certos tipos de trabalho em que não podemos errar e tudo precisa ser perfeito ou é melhor nem começar.

Da mesma forma, relacionamentos superficiais ou frios podem causar mais brigas do que alegrias, mais traições do que lealdade e mais obrigações do que prazeres. Algumas situações de relacionamento pedem entrega e amor incondicional, outras pedem respeito e moderação e há as que pedem distância e rupturas. E isso nem sempre está sob controle.

Ser sério, sem dúvida, é muito importante, mas há também os momentos em que podemos relaxar um pouco para que as preocupações não se tornem neuroses. A rigidez constante faz tão mal quanto a irresponsabilidade.

Ter fé aumenta nossa qualidade de vida, se comparada à vida de alguém totalmente incrédulo, desde que essa fé não ultrapasse a linha do fanatismo. O concreto e o cientificamente comprovado são fundamentais para o mundo.

Gastar e consumir, nem demais nem de menos. Ambição na medida certa. Risco do tamanho da sua tolerância. Generosidade sem facilitar abusos. Precisamos prestar atenção em nosso comportamento financeiro, testando e buscando.

Portanto, “equilíbrio do equilíbrio” é saber dosar as coisas, sejam elas quais forem, de acordo com você e com a situação que se apresenta. Alguns chamam de equilíbrio a alternância entre um extremo e outro, alguns escolhem sempre o meio, sendo radicais na moderação…

Para certas coisas eu sou radical assumida, em outras tenho equilíbrio e o maior desafio é lutar contra o desequilíbrio, quando acontece o extremo no momento que deveria ser ameno e vice-versa.

foto de Ruslan Z H para Unsplash

Andréa Voûte