Para onde os seus impulsos estão te levando?

Adiar a gratificação é um dos segredos do sucesso, comprovado por um famoso estudo da universidade Stanford com crianças de 4 anos: elas ficaram sozinhas em uma sala com um marshmallow, sabendo que se conseguissem esperar 15 minutos para comê-lo, ganhariam mais um e depois poderiam comer os dois. Apenas 1/3 das crianças resistiu à tentação e elas obtiveram 100% de retorno pelo sacrifício de esperar 15 minutos, ou seja, “patrimônio” dobrado. Quando foram verificar a vida dessas crianças quinze anos depois, todas estavam melhor nos estudos e na vida em geral, enquanto os outros jovens eram problemáticos. Ter a paciência de esperar e a disciplina de pensar mais no resultado do que no prazer imediato impacta o futuro mais do que QI e mais do que nível socioeconômico dos seus pais.

Ser impulsivo e inconsequente custa caro. Muitos dos piores gastos dos quais nos arrependemos são decididos nos primeiros segundos e os vendedores sabem disto. Espere pelo menos 24 horas para gastar, observe se a motivação é o medo de não ter aquilo de novo ou o prazer da compra em si, pense se você pode pagar. Cuidado com o impulso de levar vantagem, mentir ou assumir um compromisso que já sabe que não conseguirá cumprir. Cultive a compaixão para não explorar o outro e desenvolva a esperteza para evitar ser enganado. Escolha bem o conteúdo que você lê e assiste, seja seletivo em suas companhias e no lazer.

Alguns negócios desastrosos que quebram uma empresa são fechados no calor do momento e bons negócios são recusados sem pensar direito. É só olhar à nossa volta para constatar que ter objetivos, planejar e executar corretamente dá resultado positivo nas finanças. Projetos bem-sucedidos e negócios de sucesso demandam planejamento sério, competência, muito trabalho, preparação, investimento de dinheiro e tempo para dar lucro. E o sucesso traz prazer também, mais sólido e duradouro; depois que você se supera sente-se muito bem. O prazer imediato é infantil e egoísta, enquanto a felicidade é generosa.

Ser atropelado pelos fatos e reagir a eles é bem diferente de agir e conduzir os acontecimentos. Falar e agir sem pensar costuma trazer problemas na esfera pessoal, acadêmica ou profissional, e afeta especialmente os relacionamentos. Prevenir-se contra imprevistos desfavoráveis tranquiliza e eles serão absorvidos naturalmente. Preparar-se para boas surpresas nos torna aptos a aproveitar melhor as oportunidades quando elas surgirem. Precisamos da inteligência emocional e do autocontrole e isso não quer dizer reprimir as emoções.

Perdeu dinheiro? Estude como recuperá-lo. Perdeu o controle? Retome e não prolongue a bagunça. Só não podemos exagerar e passar todo o tempo planejando, é preciso agir e colocar em prática o que foi planejado. A função maior do planejamento é saber qual a coisa certa a fazer, quando, como e onde. Se não houver ação, ele perdeu a finalidade. Se você se perder nos detalhes, talvez não dê tempo de executar — atualmente tudo acontece muito rápido. Tornar-se obcecado por controle não é saudável e nem realista. Resista aos impulsos, mas saiba diferenciá-los de uma intuição, um instinto verdadeiro. Viva bem o presente, lembrando-se de considerar o futuro.

Andréa Voûte

foto de Tommaso Fornoni para Unsplash

Com orçamento se vai mais longe

Tenho orçamento pessoal desde meus primeiros salários. Depois de tanto tempo, eu acabei desenvolvendo algumas noções básicas – o famoso bom-senso – e poderia até dispensar o uso desta ferramenta sem grandes prejuízos.

Então para que eu continuo alimentando aqueles controles, registrando despesa e receita? É porque gosto do resultado, de conhecer a minha real situação material, de observar os meus bons e maus hábitos financeiros e acompanhar a evolução do patrimônio. Consciência mesmo quando dolorida é importante, gosto de ter base para traçar metas para o meu futuro, enfim, de ter um controle nas mãos, até onde isto é possível.

Quem não conhece o método normalmente receia ficar preso a restrições e continhas chatas. É, não vou negar que você pode perder-se nos detalhes e isso tomaria tempo. Então, a norma é simplificar ao máximo. Faça um favor a você mesmo, aproveite e dê alguns passos na direção de sua independência financeira – reduza o número de contas correntes, de cartões de crédito, parcelas, cheques pré-datados e tudo o que complica e confunde.

Existem várias maneiras de se elaborar e seguir um orçamento, truques e atitudes que o tornam ainda mais eficaz. Curiosidade: após alguns anos, me dei alguns luxos, como por exemplo, incluir uma categoria de despesas que pode ser “torrada” em qualquer coisa e, acreditem, às vezes eu prefiro poupá-la!

Não é para qualquer um, os primeiros meses exigem coragem… Eu olharei de frente para o fluxo meu dinheiro – de onde vem, para onde vai e conhecer quem sou eu financeiramente. Sem o orçamento, pensamos que sabemos, mas a maioria de nós se ilude muito. Sem ele, o planejamento será menos sólido e provavelmente otimista demais. Busque esta coragem e entre em ação.

O resultado vale muito à pena, ou as empresas e os projetos de sucesso não teriam orçamento!
Andréa Voûte

Quatro cestos

Que tal terminar o ano mais leve? Sugestão: separe 4 cestos ou caixas e já comece uma arrumação. Separar por tipo de objeto e não por cômodo da casa facilita muito, só assim você vê o todo. Adote hábitos como descartar um produto sempre que compra outro novo ou escolha o que estiver sem uso por um ano ou mais e você tem dúvidas se usará novamente para um destes cestos. Deixe-os à vista e vá enchendo aos poucos enquanto organiza. Depois de dar um destino às coisas separadas, você recomeça o processo. Assim você facilita a limpeza e abre espaço para o novo.

1 DESCARTE PARA RECICLAGEM. Se você ainda mistura lixo comum com material que pode ser reaproveitado, comece a fazer a separação. Procure uma cooperativa ou um catador, eles ficarão felizes com a sua doação que poderá gerar renda para eles. O meio-ambiente agradece, os lixões são um sério problema e na vida urbana geramos um excesso de resíduos. Produtos rasgados, quebrados, mofados, esticados, manchados, faltando peça, etc podem descartados para reciclagem ou ser usados por mais algum tempo pelo próprio dono. 

2 TROCA OU VENDA. Troque em feiras ou entre conhecidos. Há coisas que você usa uma vez ou duas como livros, discos ou jogos. Aquela linda peça de vestuário em bom estado que não te serve mais ou que não era o que você esperava. O brinquedo da criança que cresceu ou ganhou dois iguais. O enfeite que você não tem mais tempo de limpar. A planta que já gerou mudas. O material de construção que sobrou da obra. Navegue pelos sites e redes sociais onde pessoas compram e vendem usados, veja os anúncios, pesquise os preços e as condições das vendas. Mesmo novos na caixa normalmente os objetos são vendidos por um valor bem menor do que na loja. Divulgue em grupos de comércio e troca da região, amigos e familiares e colecionadores. Fique atento a coisas que valorizaram pela raridade, pela moda, pela antiguidade ou qualquer outro motivo, você pode se surpreender. Isso pode desafogar suas finanças e o seu espaço.

3 DOAÇÃO. Há famílias e instituições realmente pobres para quem sua doação fará muita diferença. Procure-as e ajude, diretamente ou através de campanhas! Participe de todo o processo se possível, doando também o seu tempo para organizar e entregar as doações, conhecendo quem recebeu e o que mais ela precisa. Respeite as pessoas doando objetos em bom estado, faça novas amizades e pratique a generosidade. Doar é um ato que dá prazer e vicia, você pode fazer disso um hábito e contemplar pessoas diferentes com a sua doação.

4. CONSERTOS OU MELHORIAS. Reutilizar também é reciclar, mas não vale acumular por anos e anos sem uso. Há infinitas ideias de artesanato e decoração do tipo “faça você mesmo” que dão um novo uso para algo já desgastado. Os objetos difíceis de se encontrar e que você ainda tem interesse podem valer o conserto. Antigos celulares que quando descartados geram lixo tóxico podem ser usados por mais alguns anos como um segundo aparelho em uma de suas funções como câmera, gravador, transações bancárias, bloco de anotações, somente telefone, alarme, etc.

Andréa Voûte

O que chamamos de dinheiro

Primeiro foram os cartões de crédito e débito, depois formas de pagamento como PayPal (do E-bay, EUA) que passa pelo cartão de crédito, sua digital, íris e tokens e agora outras que não tem qualquer relação com o que já conhecemos. O dinheiro vivo é cada vez menos usado, somente cerca de 5% das transações financeiras do mundo. Na China, é comum pagar nas lojas e camelôs apontando o celular para uma plaquinha com um QR Code (uma espécie de código de barras) do estabelecimento e Alipay da empresa Alibaba e WeChatPay da empresa Tencent são os meios de pagamento mais usados.

As fintechs são empresas do mercado financeiro que usam intensamente a tecnologia para prestar serviços modernos, menos burocráticos e mais baratos. Elas costumam ser mais especializadas, oferecendo somente um serviço, como conta digital, cartão de crédito, investimentos ou empréstimos. Bancos digitais sem agências físicas, cartões de crédito sem tarifas, empréstimos a juros menores. Quanto mais a tecnologia avança e o seu custo cai, mais estímulos para as fintechs decolarem. Mesmo assim, algumas já quebraram e muitas dão prejuízo ou um lucro que nem chega perto das instituições financeiras convencionais.

São fruto da insatisfação dos clientes bancários que ficam nos bancos por obrigação e por insegurança mas não gostam dos serviços, desconfiam da isenção dos conselhos recebidos, acham caras as tarifas e juros e prefeririam ter mais opções de bancos concorrendo. Os bancos já estão reagindo, tentando criar alternativas competitivas e questionando a segurança dos dados e do patrimônio dos clientes que as fintechs proporcionam.

“A criptomoeda (ou criptodinheiro) é um meio de troca que se utiliza de criptografia para assegurar transações e para controlar a criação de novas unidades da moeda.[1] Criptomoedas são um subconjunto das moedas digitais. O Bitcoin tornou-se a primeira criptomoeda descentralizada em 2009.[2]  Desde então, inúmeras criptomoedas foram criadas.[3] Criptomoedas usam um controle descentralizado, ao contrário de sistemas bancários centralizados.[4]  O controle descentralizado está relacionado ao uso do block chain (Banco de transações do Bitcoin) no papel de livro de registros.[5] ”  Wikipedia

Um programador japonês (ou empresa) de pseudônimo Satoshi Sakamoto desenvolveu o Bitcoin – BTC – em 2009. A partir daí, surgiram muitas outras, como Ethereum (ETH), Stratis (STRAT), Ripple (XRP), Siacoin (SC), Dash (DASH), Aeon (AEON).

Você baixa um programa que é uma carteira virtual, compra seus primeiros Bitcoins com dinheiro real e depois começa a usar, por exemplo, pagando compras virtuais. Tem algumas semelhanças com câmbio de moedas estrangeiras, inclusive com emissão limitada. Usuários “mineiros” emprestam o seu computador para resolver cálculos e ganham Bitcoins, mas a mineração rende pouco e exige muito processamento e energia elétrica.

Os governos tratam as criptomoedas de formas bem diferentes e todos estão atentos e planejando maneiras de taxar e regular as transações feitas com elas. A ideia é ter moedas internacionais, independentes e anônimas que diminuam a violência e economizem as despesas com impressão, transporte e armazenagem do dinheiro físico. Mas não ter para quem reclamar ou a quem rastrear e processar não inspira segurança. Além disso, dinheiro virtual também precisa ser protegido e ver os dígitos sumirem da sua conta também é uma forma de violência.

Algumas pessoas estão usando as criptomoedas para especular, o que é arriscadíssimo pela alta volatilidade (os preços oscilam mais do que ações, dólar e ouro) e alto índice de roubo e fraude. A liquidez é menor do que Dólar e Euro e mesmo para usar como forma de pagamento ainda é pequena a aceitação. Para arriscar-se a investir nas criptomoedas, você precisaria acompanhar de perto as notícias sobre elas, sobre tecnologia e todos os fatores políticos e econômicos que poderiam influenciar a moeda a subir ou cair. Mesmo que use uma corretora.

O dinheiro em espécie é algo concreto e portanto fácil de entender e sentir. Por tudo o que já estudei sobre psicologia do dinheiro e finanças comportamentais, imagino os gastadores gastando mais e os desligados do dinheiro ficando ainda mais desligados. Pagar com dinheiro em papel faz com que você use o tato, a visão e o olfato; para planejar os saques e contar o troco você pensou e adquiriu uma consciência maior do seu gasto. Receber em dinheiro também é gostoso e contar as notas, esconder no cofre, ver a criança juntar no cofrinho, colecionar moedas estrangeiras, tudo isso tende a virar história em breve. Os conceitos de liquidez, riqueza, crédito e investimento estão mudando e quanto mais você entender de tecnologia melhor.

Postura ativa e responsável

Imagine que estejamos vivendo um dia normal, quando de repente surge um imprevisto. Sabemos que isso pode acontecer e que são várias as atitudes que podemos tomar. Digamos que nossas reações em determinados momentos podem ter uma tendência ativa e, em outros momentos, passiva. Vamos ver o exemplo abaixo:

Uma pessoa, em um ato bastante comum e aparentemente generoso, empresta seu cartão de crédito para uma amiga fazer compras. Essa pessoa possivelmente acabará, com problemas e talvez o nome sujo na praça. Se isso acontecer, pela postura passiva adotada – provavelmente por considerar a amiga confiável – está claro que ela é igualmente responsável pela situação criada. Em situações assim, também é comum que, para não ficar chato, ela não cobre a amiga. Magoada e constrangida ela fala com o banco, reclama dos juros, perde tempo, dinheiro e, como não poderia deixar de ser, a amizade fica abalada. Para evitar esse tipo de situação, adotar uma postura “ativa” é sempre a melhor solução, que, nesse caso, seria simplesmente ter dito, de forma delicada, que não poderia emprestar o cartão. Talvez acompanhada de uma orientação de como não precisar pedir emprestado o cartão alheio para que a amiga também seja mais ativa e autônoma em suas finanças.

Nesse exemplo estamos falando de escolhas possíveis, sendo que a mais “fácil” pode tornar uma pessoa vítima das circunstâncias. A mais “difícil”, porém, poderá evitar problemas e trará mais tranquilidade no futuro. Decisões desse tipo tranquilizam e enriquecem. O autocontrole é bem melhor do que tentar controlar o outro; o autoconhecimento primeiro e depois conhecer o outro; a autocrítica é mais útil do que criticar o outro, a autoestima é mais importante do que os aplausos alheios.

Ser adulto é fazer a nossa parte primeiro, é vencer a preguiça, é ter coragem, é persistir, é ter palavra e sustentar-se. Você já observou uma pessoa imatura e pensou que caberia aos pais não mimarem os filhos e aos filhos recusarem os mimos? Isso se estende a outras relações também, por exemplo entre chefes e funcionários, entre marido e mulher ou até entre prestadores de serviços e clientes. Pessoas dependentes que ficam procurando alguém para seguir e pessoas mimadas que ficam procurando alguém que as sirva não se desenvolvem, não conquistam nada e desperdiçam o seu potencial no tédio da vida passiva.

Exemplos de perguntas improdutivas: Quem é o culpado?  O que pode ser pior do que isso?  Quem vai pagar por isso?  Como posso provar que estou certo?  Quando as coisas vão mudar?

Exemplos de perguntas produtivas: O que eu posso fazer para resolver ou minimizar o problema? O que eu posso aprender com isso? O que eu posso fazer para evitar que aconteça novamente? Como aceitar e me adaptar ao que não tenho sob controle? 

Andréa Voûte

Os desejos e a liberdade

Tantas coisas almejamos fazer com nosso dinheiro que já não sabemos o que nasceu em nosso interior e o que foi influência de quem convivemos ou “implantado” pelas grandes empresas, já que os mecanismos do marketing moderno são sofisticadíssimos e sutis. Hoje o marketing conhece nosso cérebro e comportamento melhor do que nós mesmos.

Vamos resolver isso então! Mergulhemos cada vez mais no autoconhecimento, observando diariamente a nós mesmos. Prestemos atenção nos números, nas emoções ao ganhar, gastar, poupar, investir, perder e doar. Parece que gastar traz felicidade, que merecemos mais, que podemos tudo, que as condições de pagamento estão facilitadas, mas racionalmente já sabemos que não é bem assim.

Como transformar um rico em pobre, um feliz em infeliz, um calmo em estressado? A fórmula é bem simples, faça ele desejar cada vez mais e gastar tudo o que tem e mais um pouco, faça ele sentir-se ultrapassado e por fora, aumente as expectativas e chame os luxos de necessidade. Toda a sua riqueza será engolida pelos juros, toda a sua satisfação será sufocada pela ambição insaciável e toda a sua calma será atormentada pelas dívidas e dúvidas sobre conseguir cumprir todos os compromissos que gerou.

Uma das coisas que a maioria das pessoas felizes tem em comum é gostar do que tem e dar valor às pequenas coisas. Só que estamos expostos a milhares de propagandas por dia que nos dizem claramente ou insinuam o contrário. Somos atraídos para a novidade, seduzidos pela perfeição, induzidos ao prazer do consumo e levados a acreditar que temos coisas antiquadas e uma vida sem graça. Não se trata de uma teoria da conspiração para deixar a todos mal, basta que quem venda algo seja egoísta e não se importe verdadeiramente com o consumidor nem com o meio-ambiente. É quem gasta que precisa ter muita consciência.

Tenho visto pobres que ganham muito bem e vivem no luxo, mas se ficarem um mês sem trabalhar seu castelo de areia desmorona e estão em sérios apuros. Tenho visto pessoas de natureza simples serem influenciadas pelo consumismo e aumentarem a sofisticação gradualmente até o ponto da futilidade. Tenho visto vaidosos que trocam o cuidar-se por produzir-se e ainda que gostem do que veem no espelho, não se reconhecem ali e, sem todos os acessórios e recursos, ao saírem do banho sentem-se incompletos, quando deveria ser o contrário. Tenho visto ricos que financiam o consumismo alheio e são coniventes com a preguiça dos seus dependentes, comprando assim o afeto e a presença de quem deveria estar por perto naturalmente.

Não precisamos nos torturar inutilmente por valores irrelevantes nem poupar cada centavo, não nos permitindo usufruir do fruto de nosso trabalho, é claro. É uma questão de cuidar da sanidade mental e da liberdade, evitando nos deixar escravizar por coisas que na verdade não importam.

A vulgarização do crédito

Ouvir que uma pessoa ou empresa tem crédito soa como elogio. Podemos entender com isto que ali há o costume de honrar os compromissos, de cumprir a palavra e agir com responsabilidade. Partindo dessa premissa, basta analisar as condições: qual o valor a ser emprestado e de que forma este dinheiro pode voltar para as mãos do credor com algum lucro e menor risco.

Não faz tanto tempo assim que o uso do crédito respeitava um bom senso, apenas em situações realmente urgentes, oportunidades únicas e “casos de vida ou morte”, como se dizia na época. E era comum ver pessoas físicas e jurídicas que ao longo da vida endividavam-se uma ou duas vezes, no exato valor da emergência. A oferta era menor, algum “fiado” era aceitável.

Hoje isto mudou, o crédito está infiltrado na sociedade e quase todos convivem com ele por anos, como se fosse normal ou até necessário. Para que viver a vida que o salário pode pagar se estamos rodeados de ofertas intermináveis de um dinheirinho extra a ser “somado” ao nosso? Isso nos permite satisfazer mais desejos e parecer que temos e podemos muito mais, como aqueles que estão um degrau acima na escala social podem e tem! Não te parece fácil demais?

Permitam-me ser a chata que chama para a realidade àqueles que sentem os limites do cheque especial e cartão de crédito como sendo seus… Isto é um recurso de terceiros, a ser devolvido a um preço bastante alto por sinal. Na prática, quem usar estes recursos para consumo, muitas vezes estará “presenteando” o credor com um valor equivalente, pagando o dobro do que vale aquele bem. Se o uso for para pagar as contas do dia-a-dia, é necessário rever imediatamente o orçamento, ou elaborá-lo, caso não exista ainda.

Como já sabemos, o dinheiro pode ser muito bem utilizado, mas os juros do crédito não são um bom exemplo disso. Dever compromete a liberdade, a dignidade, a honestidade, a paz, o futuro e a qualidade de vida, isso sem falar nos prejuízos materiais… Pense se é realmente necessário cair nesta situação. Pode ser que não haja mesmo outra saída e, neste caso, as escolhas devem ser pesquisadas e planejadas com extremo cuidado, da melhor forma possível.
Andréa Voûte

Comparação inteligente de preços

Imagem gratuita do Pixabay

As diferentes embalagens dificultam bastante nossa comparação entre os produtos e uma decisão rápida e consciente. Vejam o caso do supermercado, onde o certo seria saber o preço por litro / kilo / metro / unidade, na prateleira. Além disso, vale considerar a qualidade e o rendimento (ou concentração) do produto, que podem variar bastante. Para quem acha que todos os produtos industrializados seguem um padrão mínimo de qualidade, pergunte a quem já visitou ou trabalhou em mais de uma indústria…

Tomemos como exemplo o papel higiênico e o suco pronto.

Rolos de papel higiênico podem ter 30 ou 60 metros. Qual compra vale mais à pena – 8 rolos de 30 metros folha simples comum por $5,69 ou 4 rolos de 30 metros folha dupla macia por $7,14? O simples custa 2 centavos por metro e se dissolve mais facilmente, mas você precisa usar o dobro da quantidade enquanto o macio custa 6 centavos o metro (o triplo), só que rende mais e talvez você possa usar também como lencinho para acudir gripes ou limpar algumas coisas delicadas.

E na hora de comprar o suco, você preferiria um concentrado por $15,00/litro ou pronto por $5,00/litro? Depende da diluição, de quanto rende o concentrado. Sabendo que a maioria dos sucos tem corante, espessante e aromatizante (incluindo os concentrados) você estaria disposto a pagar mais por um produto natural? E por um sabor exótico de fruta do Nordeste ou da Europa? Você acha que vale à pena um suco light ou diet mesmo sem que você seja diabético ou obeso?

A quantidade de opções nos confunde, chegue ao supermercado com algumas ideias já formadas e procure saber o preço por unidade. Minha maior surpresa foi constatar que nem sempre as embalagens de maior quantidade são realmente mais econômicas, acontece de serem do mesmo preço ou até mais caras… Compare!

Qual é o preço do kg de cada alimento que você costuma consumir? E se algum deles for bem leve ou muito pesado, se algum deles você consumir em grande quantidade ou pouquíssimo, também é preciso considerar. Com estes dados, fica mais fácil cruzá-los com as informações nutricionais e decidir onde você está fazendo bons e maus negócios. Vamos a alguns itens de lanche que fiz uma média de supermercados diversos.

ALIMENTO R$/KG PESO QUANTIDADE
frios 50,00 pesado pequena
queijo 40,00 pesado pequena
pão de forma 10,00 leve grande
leite (litro) 3,00 pesado grande
café 20,00 médio pequena
margarina 10,00 pesado pequena
abacate 6,00 pesado pequena
banana 6,00 pesado média
laranja 4,00 pesado média
maçã 6,00 médio média
mamão 8,00 médio pequena
castanhas 90,00 médio pequena

E então?  O que você acha que vale quanto custa? Observe que nem sempre os alimentos saudáveis são os mais caros, pelo contrário.

Andréa Voûte

O QUE É REAL NO QUE VOCÊ INVEJA?

O QUE É REAL NO QUE VOCÊ INVEJA?

Andréa Voûte

Conheço os bastidores, os números, os desabafos, a saúde financeira, física e mental por trás das aparências. Muitas vezes, quanto mais bonito tudo parece, piores são as histórias. Sei quanto custa manter, o que foi preciso fazer para adquirir e a probabilidade de se perder determinado bem ou posição social.

Acompanho com preocupação a compulsão por gastos, o vício das dívidas, a irresponsabilidade de adultos que se cercam de uma falsa riqueza. Sinto o crescente interesse nas conquistas do outro e as comparações do nosso pior dia com o melhor dia do outro nos envenenando. Uso a tecnologia que nos liberta de algumas coisas e nos escraviza com outras, confundindo o que é real. Vejo a crescente autonomia feminina – mas nem tanto – o esforço do homem em parecer bem resolvido enquanto seu papel muda o tempo todo e o suposto poder dos filhos enquanto a sua dependência se prolonga.

Será que você não está desejando algo irreal, ilusório, que na verdade não existe? A aparência está supervalorizada e isso faz com que muito do que vemos não tenha lastro em fatos. Os motivos são diversos, recusar-se a a ver a verdade, enganar para impressionar ou para conseguir alguma coisa, só querer saber de coisas positivas, varrer a sujeira e reprimir os problemas para baixo do tapete por falta de coragem ou estar anestesiado por vícios. Somos avaliados e julgados o tempo todo e nem sempre o que consegue melhores resultados é o mais competente, ele pode ser simplesmente o político, o bom vendedor ou o comunicador eficaz. O casal mais romântico e apaixonado nas festas e na Internet não necessariamente é o mais feliz.

Ter um ótimo carro significa mais um interesse por carros do que poder aquisitivo. O motorista pode estar preso em infinitas parcelas ou ser apaixonado por carros, viciado em trocar o carro zero a cada ano. Pode ser uma pessoa insegura que precisa de um carro grande, potente e caro para se afirmar. Ou quem sabe ele passa por locais isolados, tem crianças pequenas, viaja muito com o carro ou transporta coisas grandes.

Andar sempre impecavelmente bem arrumada não significa ser rica. Isso diz mais sobre a vaidade da pessoa, a importância que ela dá aos símbolos, à comunicação, à visão e ao senso estético. Ela certamente gasta bastante tempo com isso, mas dinheiro… Algumas endividam-se em lojas, joalherias e salões, acabando com a saúde ao subir nos saltos e alisar os cabelos. Outras são criativas e costuram, fazem suas próprias máscaras, compram ou trocam peças usadas. E as fotos cuidadosamente escolhidas e editadas? Admiramos aquela imagem estática esquecendo que as pessoas são 3D e não estão sempre no seu melhor ângulo.

Você se impressiona com lindas mansões ou escritórios sofisticados? Nem sempre isso quer dizer patrimônio sólido, pode ser uma herança que a pessoa mal consegue sustentar, um local de trabalho com pressão insuportável ou o abrigo de uma família que mal se fala. A fachada impecável muitas vezes esconde um quintal entulhado, uma cozinha abandonada e armários cheios de mofo.

Se você se encanta com a leveza da bailarina aceite os seus calos, se almeja as medalhas do atleta pergunte da sua lista de lesões, se você inveja a emoção do cantor saiba das humilhações que ele passou, se sonha com o sucesso do empresário, esteja disposto a lutar e falhar. Toda conquista vem depois dos desafios e na biografia dos ricos e famosos tem dor, erros, sacrifícios e esforços.

O problema é o que deixamos de fazer

As coisas mais sujas são as que recebem menos limpeza e não as que recebem menos sujeira. Sabemos que alguma sujeira é até boa, que celulares podem ser mais sujos do que sapatos, que mais vale uma limpeza frequente do que um produto forte. Interessante é que muitos destes conceitos se aplicam às finanças.

Nos recusamos a encarar as dívidas até que o nome fique sujo e com isso o crédito negado. Depois de estar sem tempo, dinheiro e energia para nada, sofrendo pressão dos cobradores, nossa reputação na lama, aí sim seremos obrigados a tomar uma atitude. Recomeçar, mudar hábitos, renegociar e limpar o nome levam tempo. Não se acostume a viver pendurado em dívidas, comece hoje a pensar e agir sobre isso!

Deixamos de fazer os controles financeiros porque são chatos, a não ser quando já estamos perdidos na escassez, desemprego ou fraudes. Quando fazemos, percebemos a importância deles e desfrutamos do resultado financeiro e mental. Não saber para onde vai o dinheiro, qual é a nossa real situação ou que opções temos é jogar com a sorte e normalmente resulta em azar. Se as suas finanças estiverem descontroladas, experimente mudar isso!

Emendamos uma atividade na outra, maratonamos seriados, trabalhamos sem interrupção, lotamos a agenda, navegamos na Internet por horas, boicotando as pausas necessárias. Sabemos que o sedentarismo é o novo cigarro! Só quando engordamos ou sentimos os sintomas físicos e mentais começamos a dar atenção para o que realmente importa. Mexa-se agora!

Da mesma forma, os gastos acontecem em um ritmo diário, mas não paramos para fazer um balanço e análise destes gastos até que as contas comecem a atrasar. Consumimos a nós mesmos no consumismo e a vida vai passando até o dia em que percebemos que desperdiçamos parte dela com ilusões e compulsões. Desprezamos os pequenos valores na hora de gastar e na hora de ganhar, acostumamo-nos com alguns desperdícios, subestimamos os custos e os riscos e superestimamos os benefícios e as possibilidades. Tenha consciência!

A velhice chega para todos os que estiverem vivos, a aposentadoria chega para quem trabalha, mas… parecem tão longe no tempo… Faça o seu planejamento financeiro ou estará nas mãos de seus filhos, INSS, bancos, planos de saúde e todas as mudanças que estes venham a sofrer.  Quanto antes você começar a preparar a sua aposentadoria, melhor ela tende a ser. Se você nunca ligou para conforto ou segurança, na velhice mudará de prioridades. Não espere mais para cuidar deste assunto inevitável!

Esquecemo-nos dos pobres com quem não temos contato e procuramos distância cada vez maior deles. Só quando nos ameaçam, nos incomodam, fedem ou nos fazem sentir culpados, começamos a pensar neles. Doações e trabalho voluntário são parte normal da vida, tratar empregados com justiça, pensar no coletivo e desenvolver a generosidade são atitudes sábias. Olhe para o lado por cima dos muros do egoísmo!

Não fique parado por medo da mudança ou por desconhecer o assunto, vá à luta! Não resolva somente os problemas visíveis e que já te atrapalham há tempos, resolva também os invisíveis e os previstos. Não esgote a boa vontade de quem te ajuda e compreende, deixando chegar ao ponto de ser julgado e desrespeitado. Não se preocupe só com o que aparece e afeta a sua imagem, trabalhe as coisas que só a terapeuta e o espelho sabem, ou nem eles… Não faça o certo simplesmente para evitar multas e punições, faça por você mesmo!

Andréa Voûte