Podemos viver uma vida inteira sem nos lembrar das pessoas que precisam de ajuda; é uma opção feita por muitos. Só que doar faz parte da relação com o dinheiro, assim como ganhar, gastar e guardar. Mesmo quando nossa situação não for das melhores, tem sempre alguém com mais carência, em dificuldades maiores e passando por necessidades diversas. Sempre há algo para trocar com o outro.
Trocar uma caprichada refeição por um sorriso de barriga cheia. Pode ser para uma criança, um animal ou um idoso, no meio da rua ou em uma instituição, pode ser até uma doação distante, mas esteja lá para ver a pessoa beneficiada saboreando. Trocar um agasalho ou cobertor quentinho por uma expressão de prazer. Às vezes bastam alguns minutos de sua atenção, um estímulo à autoestima de pessoas que são tratadas como entulho. Bastam dois ouvidos que podem escutar, dois braços que podem abraçar, uma boca que pode confortar, apenas para tratá-las como gente.
O trabalho voluntário não rende um centavo, pelo contrário, frequentemente ele custa. Doamos um corte de cabelo, um exame médico, uma aula ou uma festa. Gastamos o nosso tempo, normalmente mais do que o planejado. Gastamos a nossa energia vendo situações tristes e atuando em condições precárias. Sempre gastamos alguma quantia em doações ou algo que faltou e precisou ser comprado na última hora. Gastamos ou investimos? Quando há retorno do que foi gasto não chamamos de investimento?
Investir tempo e dinheiro no outro tem retorno em auto realização, na maravilhosa sensação se ser útil, em amizade, em percepção de abundância. Inclusive muitas vezes um retorno financeiro acontece: surgem oportunidades de trabalho, pois foi pela doação de tempo e talento que acabamos mostrando o melhor de nós. É no trabalho voluntário que adquirimos experiência em novas tarefas e aprendemos a improvisar. Lá sentiremos o poder da boa vontade, que une com eficácia uma equipe que nunca se viu antes.
A maioria de nós quer ser bom e sente prazer em ajudar, a pessoa com um propósito maior costuma viver mais satisfeita. Mãos ocupadas com um trabalho voluntário não têm tempo de fazer besteira e coração solidário não cabem raiva e compaixão juntos. Novas experiências, novas perspectivas, são como um intercâmbio em um cenário mais escasso e complexo que o nosso. Isso faz nossos problemas parecerem pequenos e acaba nos fortalecendo para outros momentos posteriores. Para quem desliza no desperdício, a doação mostra quanta coisa boa se faz com poucos recursos. Faz com que pensemos duas vezes antes de torrar em futilidades uma quantia que compraria uma cesta básica.
Como qualquer outro investimento, a doação requer atenção. Responsabilidade social implica sermos responsáveis pelas nossas doações até o fim e fazê-las com amor e alguma isenção.
1. Não adianta esperar sobrar no fim do mês, o ideal é separar assim que receber.
2. O destinatário da doação precisa e está preparado para receber isso neste momento e nesta quantidade.
3. A doação será tratada com seriedade, sem margem para desvios ou negligência.
4. A ajuda é gentil e respeita o outro. Ouve e compreende sem impor, sem manipulações ou jogo de poder.
Às vezes é preferível o silêncio e o afastamento. Pode ser mais produtivo deixar a pessoa aprender e oferecer coisas como educação financeira ou capacitação profissional e não dinheiro.