Autonomia é um termo de origem grega cujo significado está relacionado com independência, liberdade ou autossuficiência. Termos que soam bem para todos nós, mas frequentemente pensamos e agimos na direção contrária. Queremos ser donos de nosso destino sem ter que nos esforçar por isso.
O antônimo de autonomia é heteronomia, palavra que indica dependência, submissão ou subordinação. O ideal é chegar à interdependência saudável com liberdade e com limites, sem abusos ou dominação. Na dependência ou co-dependência, tudo fica muito preso, repetindo ciclos doentios que prejudicam aos dois lados.
Ninguém conseguirá ser autônomo em tudo e, se tentar, ficará escravo da própria pretensão. Com esta escravidão deixará de ser livre… Saber fazer não significa ter que executar pessoalmente tudo o tempo todo, significa ter a possibilidade de resolver sozinho caso necessário. Significa coragem para tentar, curiosidade de saber como as coisas funcionam e boa-vontade para domar a preguiça.
Não vivemos isolados e nem é bom que sejamos individualistas. É igualmente importante saber trabalhar em equipe, em sinergia e com união. A força do coletivo não deve ser ignorada, bem como o valor de um grupo engajado, a emoção de participar de algo maior. E o próprio grupo pode ter autonomia em relação ao meio externo e a outros grupos.
Internamente, ser autônomo é pensar livremente, ser emocionalmente independente, conseguir planejar, criar suas próprias regras, saber tomar boas decisões, ter o conhecimento, conseguir imaginar e elaborar coisas sozinho. Autonomia intelectual e emocional, que são complexas e podem levar a vida toda para amadurecer.
Para que a autonomia seja completa, ela deve ser extrapolada para o mundo externo, onde se consegue realizar, consertar, construir, iniciar, fazer do zero e fazer crescer. É então que esbarra-se nos outros e nas leis, sejam elas naturais ou civis. Esbarra-se também em suas próprias fraquezas que não aparecem enquanto estamos na esfera teórica, só na prática.
Trata-se de uma condição que expande os limites, nem sempre precisando derruba-los. É ter um poder que interage com os outros poderes em harmonia sempre que possível. Oferece e aceita ajuda, mais por gentileza do que por necessidade.
Nascemos totalmente dependentes e é natural ganhar cada vez mais autonomia. Ela começa na infância e deve ser estimulada no momento certo de acordo com cada fase de desenvolvimento. Começa com andar, falar, comer e beber sozinho. Depois vem as habilidades do tipo amarrar os sapatos, vestir-se, tomar banho, nadar, socializar-se. Mais tarde são coisas como saber estudar, comunicar-se bem, dirigir.
Ainda há adultos que não sabem gerir a própria vida e vivem como adolescentes em termos de autonomia. Não conseguem pensar sozinhos, cozinhar, trabalhar com seriedade, usar bem o dinheiro, cuidar da própria saúde, criar os filhos, ter um mínimo de autocontrole. A maioria das pessoas usa intensamente a energia elétrica sem entender como ela funciona e assim com diversas outras coisas. Vivemos para a tecnologia e não é mais ela que nos serve, as prioridades estão invertidas.
Terceirizamos demais e isso não custa somente dinheiro, custa um pedaço de nossa liberdade. Pode parecer mais prático, só que assim deixamos de aprender e ficamos nas mãos dos que fazem. E se eles estiverem desesperados por dinheiro e derem alguns jeitinhos de encarecer a conta? E se eles estiverem com pressa e a prioridade for terminar logo em vez da qualidade? E se eles quiserem impressionar hoje, mesmo que isso traga consequências negativas no futuro? E se eles mentirem e omitirem informações importantes, como poderemos julgar? São situações muito comuns, sejamos realistas.
Sabendo se virar, sabendo decidir e sabendo fazer, conseguimos quebrar o vínculo da total dependência e administrar melhor a vida.
Andréa Voûte