Autonomia na saúde

Cada vez mais percebo a diferença gritante entre cuidar da saúde e cuidar da doença e o quanto é prejudicial confundir os dois. Podemos observar mais, conhecer o nosso corpo e adquirir consciência e autoconfiança. Uma das pessoas que sabe mostrar isso é a pediatra de Brasília Thelma B. Oliveira, entrevistada aqui.

Sabemos dos inúmeros benefícios dos avanços da medicina, só não podemos ignorar que a higiene e o saneamento básico, a informação e a tecnologia também contribuem para a nossa saúde. Não vale por preguiça abusar dos medicamentos e cirurgias; não podemos sucumbir ao medo ignorando os efeitos colaterais do Raio-X e do antibiótico; não temos o direito de, em nome do consumismo, esgotar todos os recursos e poluir como se não houvesse amanhã; não devemos afundar nos vícios ou nos afastar tanto do que é natural e humano.

O dinheiro do indivíduo e da nação não garante saúde, bons profissionais e longevidade como gostaríamos, mas a pobreza não ajuda em nada a termos um desenvolvimento físico e mental adequado, um estilo de vida saudável e um bom tratamento com algum conforto quando precisarmos.

De que e de quem somos mais dependentes? 

Somos dependentes de opiniões diversas, que hoje brotam de todos os lados, com intenção de nos apavorar ou de forçar a venda de produtos diversos para ‘sua saúde’. O exemplo mais clássico são as ‘vitaminas’ – palavra mágica que para a maioria dos mortais significa ‘saúde’; com isso, além da campeã vitamina C ‘para gripes e resfriados’, temos os mais diversos tipos, com nomes apelativos: pluri, multi, dirigidas a segmentos específicos: mulheres, crianças, homens, idosos etc.

Quais as consequências dessa dependência? 

Gastos enormes com retorno insignificante.

Por onde começar nossa autonomia em relação à saúde?

Deveríamos dispor de informação de qualidade, tipo as do dr. Dráuzio Varella e outros de menor repercussão; nós mesmos, hoje, temos acesso a vários canais de informação, é só rastrear os mais confiáveis; verdade é que ‘saúde’ não se encontra em farmácias, mas na qualidade de vida.

Quais são os conhecimentos básicos que devemos buscar e onde?

Procurar saber o que convém a cada faixa etária em matéria de atitudes e posturas existenciais, não de medicamentos.

O que podemos mudar para sermos mais livres e saudáveis?

A seguir, a relação das situações da vida comum, que podemos sempre melhorar:

1) dormir bem – ou seja, repousar de verdade, na obscuridade completa, sem leds, sem celular à mão; SP inaugurou um Hotel do Sono, para ensinar a dormir melhor.

2) tomar um bom café da manhã, com pão, manteiga, café ou chá, com ou sem leite, mas com alguma proteína e frutas; escolares que não costumam fazer um breakfast adequado terão dor de cabeça no meio da manhã, por hipoglicemia; ainda mais se fizerem alguma atividade física.

3) almoço moderado, como nossos grãos de arroz e feijão (ou similares) + legumes cozidos com ou sem carnes, segundo nossos hábitos; quem puder, vale comer peixe uma a duas vezes por semana, pois os pescados e ovos fornecem ômega3/6, tão necessários ao cérebro.

4) lanche da tarde, similar ao da manhã, sempre com frutas + um tipo de proteína.

5) jantar: pode ser uma sopa, caldo de legumes com/sem frango desfiado + legumes.

6) pequena ceia antes de ir dormir, que pode ser um iogurte.

7) evitar trânsito pesado e ônibus / metrô muito cheios para ir ao trabalho.

8) ao chegar no local de trabalho, organizar sua mesa, conversar com as pessoas, dar e pedir notícias, evitar fofocas; caminhar a cada uma ou duas horas, mesmo que por 10 minutos; Google está adotando o trabalho de pé, para melhorar a flexibilidade e o funcionamento cardíaco

9) fim da tarde: relax com música ou ginástica leve; evitar streaming, pois ninguém precisa de música e filmes o tempo todo

10) fazer pequenas atividades ao computador, mas ao se deitar, desconectar-se das telas!

O que você considera o maior desperdício de tempo nos cuidados com a saúde?

Fazer exames de rotina, principalmente em crianças; elas não precisam de check-up, a não ser em casos especiais e não por simples modismo; outro: frequentar clínicas com diversos especialistas, procurando algum ‘mal secreto’, mesmo sem sintoma algum. Existe uma vocação à hipocondria na população, de maneira geral. Isso se vê claramente com o número crescente de farmácias. É dos ramos que não entram em crise.

Quais são os procedimentos ou medicamentos em que desperdiçamos mais dinheiro?

Vitaminas do tipo ‘complexos vitamínicos’, que são pobres em cada tipo de ‘vitaminas’ ou ‘sais minerais’, de preço alto e sem eficácia alguma.

Em que momentos devemos realmente procurar os especialistas?

Há idades para procurar especialistas: após os 40 anos para exame de mama e próstata, primeiro check-up cardiológico e um exame clínico geral.

O que fazer diante de um orçamento apertado, sem plano de saúde e reserva de emergência?

Valer-se do SUS/ medicina da família, que faz acompanhamento básico da PA e eventualmente um hemograma; na maior parte do tempo, não necessitamos de especialistas nem de aparelhos de ‘última geração’.

O que a Sra. considera bons investimentos em saúde?

1) evitar cigarro e alto consumo de álcool.

2) evitar possuir / trocar carro e outros bens dispensáveis; adquirimos modelos novos de celular, que não nos trazem alegria e servem para aumentar a sucata ambiental.

3) beber bastante água durante o dia.

4) evitar o sedentarismo.

5) procurar dormir bem e alimentar-se bem, sem grandes restrições, mas reduzindo bastante o consumo de sal, farinhas e açúcar.

Resumindo os fatores da vida moderna que afetam a saúde: estresse no trânsito, dormir pouco e alimentação precária. Nossas crianças estão cada vez mais cativas de condomínios; não conhecem parques nem as ruas; pais/mães devem ter algum tempo para atividades junto à natureza, pois tudo que a criança aprende é através do uso de seu corpo no espaço: equilíbrio, firmeza, destreza, imunidade, resistência física e emocional, respeito à natureza, alegria de brincar com os irmãos ou com outras crianças, sem os apelos ao consumismo dos shoppings.

 

AUTONOMIA FINANCEIRA

Quando você pensa em uma pessoa financeiramente autônoma, a primeira ideia que vem à sua mente é a de pagar suas próprias contas, certo? De preferência em dia, à vista e com seu próprio dinheiro. Nos casos de divisão de contas com alguém, saber planejar e negociar uma divisão justa, mantendo a consciência dos valores que o outro paga também. Tentar não explorar as pessoas mais próximas, transbordando nelas seus problemas e não se deixar explorar pelas instituições financeiras com seu crédito caro. Difícil ter autonomia, liberdade e independência sem pagar suas próprias contas. Que isso seja a regra e não a exceção, pois é mesmo a habilidade mais importante, mas não a única.

Como somos todos consumidores, devemos saber identificar o preço justo, pesquisar e comprar bem. Aprimorar constantemente a arte de negociar com firmeza e honestidade para chegar ao melhor resultado possível. Saber vender colabora para a sua autonomia, mesmo que hoje essa não seja a sua atividade principal. Se você for independente, aprenderá a negociar doações, empréstimos e cobrar quem lhe deve; se ainda não for, estará negociando na outra ponta. Se você cair no consumismo deixará de ser sustentável e isso pode comprometer toda a sua autonomia, mesmo que possua as outras habilidades. Negocie com você mesmo também.

Para evitar problemas gerados por outros, é bom deixar de ser ingênuo e aprender a reconhecer os oportunistas que não te respeitam, identificar mentiras, barrar o egoísmo alheio, mostrar os limites aos folgados. Agir corretamente e conhecer a si mesmo e aos outros cria boa-vontade e evita as situações em que um sai prejudicado. Por outro lado, é bom entender o mínimo sobre as leis que mais te afetam e contar com bons advogados e especialistas a quem possa consultar e acionar em caso de necessidade. Cercar-se de cuidados para prevenir golpes e abusos ajuda a não perder a independência financeira que você conquistou, sem exagerar na desconfiança.

Quem escolheu a sua carreira? Ter mentores e modelos para inspiração e aprendizado não significa deixar outra pessoa pensar por você. Aceitar ajuda para divulgar o seu trabalho, uma indicação ou venda comissionada tudo bem, mas analise com seus próprios parâmetros se é isso mesmo que você quer ou se dará conta. Decisões de onde trabalhar, onde estudar, que profissão seguir e quando parar de trabalhar são pessoais e intransferíveis. Levar em consideração a família é diferente de sacrificar-se cegamente por ela. Deixar a ambição falar mais alto do que tudo e colocar o dinheiro em primeiro lugar costuma decepcionar no final, ignorá-lo também.

Pelo menos por algum tempo, alimente os seus próprios controles financeiros e faça isso detalhada e cuidadosamente. Aprenda sobre tecnologia e use-a a seu favor. Participe dos procedimentos burocráticos resolvendo seus próprios problemas. Estreite sua relação com os bancos, leia seus extratos e saiba de cabeça quanto ganha, gasta, tem e deve. Entenda e renegocie as dívidas. Aprenda a poupar e investir, estude você mesmo sobre investimentos e acompanhe notícias de Economia. Eis um ponto fundamental da autonomia financeira que pode facilitar o planejamento estratégico, a paz e a prosperidade ou facilitar as fraudes, descontroles e dívidas. Planejar as finanças é gostoso, experimente (ou alguém o fará por você)! Contrate ajuda e participe ativamente, lembrando que a melhor pessoa para cuidar do seu dinheiro ainda é você mesmo.

Andréa Voûte

AUTONOMIA NA ALIMENTAÇÃO

Fazemos de três a seis refeições por dia, muitas vezes variando o local e o tipo de alimentação. É cada vez maior o número de pessoas que delega a alimentação para os profissionais do ramo, como empregadas domésticas, máquinas, restaurantes, supermercados e a indústria alimentícia. As cozinhas são cada vez menores e menos equipadas, os alimentos tornaram-se exageradamente processados e artificiais, o conhecimento básico sobre culinária, jardinagem e a origem das carnes diminuiu bastante. A maioria de nós não lê os rótulos e quando tentamos é preciso usar lupa, tradutor e conhecimento científico para decifrá-los.

Comer não é só nutrir o corpo e ingerir calorias. Almoço com os colegas é networking, com a família é reforçar os laços, com os amigos é um ato social e com o parceiro/a é intimidade, sozinho é reflexão. Alguns tem compulsão alimentar, outros são viciados em açúcar ou gordura e há pessoas que procuram nos alimentos as memórias boas da infância. Evite comer enquanto trabalha ou estuda, faça uma pausa e relaxe. Escolha seus alimentos, experimente variações, não faça as refeições no piloto automático, não confie cegamente na indústria alimentícia ou no restaurante. Considere o preço e o sabor sim, mas o critério principal deveria ser a saúde ao decidir o que vai consumir e absorver. Informação e consciência sobre nutrição contribuem para a sua autonomia alimentar.

Cozinhar não é tão complicado que não possa ser aprendido. É uma tarefa básica e necessária, mesmo que depois você queira ou possa delegar a culinária, não deve ser ignorante quanto ao preparo dos alimentos. Assim dificilmente passará fome ou será obrigado a comer algo ruim ou sujo, você controla a quantidade, qualidade e higiene. No início siga receitas e aos poucos liberte-se delas. Você vai errar no tempero até perceber a importância dos detalhes, vai errar na consistência até lembrar-se da química, vai queimar a comida até dizer não às distrações, vai cortar os dedos até criar métodos, vai desperdiçar até aprender a planejar, vai queimar-se até respeitar o fogo, vai adquirir paciência para descascar legumes e mexer a panela. Por fim você tem agilidade e criatividade, consegue inventar receitas e combinar ingredientes de forma mágica, agrada a diferentes paladares e restrições alimentares, talvez enfeite a comida e quem sabe recrute algum ajudante enquanto conversam. Comprar bem os ingredientes e não só produtos alimentícios é uma arte a ser aprendida também.

Plantar é aproximar-se da natureza e colher é como imprimir seu próprio dinheiro. Você mudará completamente a forma de ver as frutas, os legumes e verduras se acompanhar todo o ciclo de vida deles cuidando de cada etapa. A jardinagem é tão especial quanto cozinhar, comprovadamente terapêutico, proporcionando um exercício e a participação ativa na produção do que consome. Comece com vasinhos de ervas e plantas fáceis de cultivar e que durem anos, depois quem sabe aumente para uma linda horta, um pomar perfumado, algumas galinhas e peixes. Isso reduz sua dependência dos mercados e te dá uma noção do preço justo de cada coisa. Colher só o que vai usar naquele dia também reduz o desperdício. Aproveite para desenvolver uma produção orgânica e com isso ganhe saúde e sabor do alimento fresco e natural. Quanto aos bichinhos, divirta-se brigando com os que ameaçam a sua colheita e faça amizade com as minhocas e os polinizadores. Reutilize restos de vegetais compostando até virar adubo, reduzindo drasticamente a quantidade do seu lixo orgânico.

Andréa Voûte

AUTONOMIA NOS CUIDADOS PESSOAIS

Ainda não inventaram melhor pessoa para cuidar de você do que você mesmo. Aqueles momentos só seus de amor próprio e autoconhecimento, em que você percebe a textura da pele e do cabelo, ouve o corpo, sente onde dói e onde é sensível. Você detecta os probleminhas a corrigir, alonga-se para alcançar as costas e esbarra nos limites desse alongamento. Agora você só tem que se preocupar com o produto certo e o melhor tratamento. Você pode ficar em silêncio ou até colocar uma música que combine com o seu humor, para que seja realmente terapêutico. Depois estará bem cuidado, cheiroso, relaxado, macio, saudável, um prazer sereno.

Tudo o que tem que ser feito com uma frequência diária ou semanal você deve saber fazer. Lavar os cabelos é tarefa básica de higiene pessoal e se você costuma secar no secador ou modelar, aprenda a fazê-lo direito. É gostoso ter alguém massageando o seu couro cabeludo e cuidando de você, mas terceirizar totalmente esta tarefa demanda muito tempo e dinheiro. Quem pinta os cabelos um dia precisará pintar em casa, é bom treinar de vez em quando porque não ficará bom da primeira vez. A escolha dos produtos corretos para o seu tipo de cabelo deve ser sua, com orientações do cabeleireiro, da vendedora da loja de cosméticos e de textos da revista. Considere também o tipo de agressão natural ou química a que ele está exposto, a textura, o volume, o comprimento e até a cor. Teste e varie os produtos, mas informe-se com gente séria. É possível fazer ótimas hidratações em casa, economizando muito. Quanto ao penteado, você não precisa saber fazer esculturas elaboradas para ir ao casamento chique, mas coisas básicas do dia-a-dia sim, compre acessórios de cabelo e experimente quando estiver sozinha sem compromissos.

Quando vou à manicure, já chego com as unhas cortadas e lixadas, no tamanho e formato certos. Nem penso em terceirizar estas tarefas e nas raras vezes que o fiz, detestei o resultado. Hidrato minhas mãos e pés todos os dias e empurro as cutículas uma vez por semana. Levo meu próprio kit ao salão, que eu mando amolar, desinfeto com álcool e troco de vez em quando. Isso é fácil e eu não confio na estufa e no conhecimento técnico que a manicure tenha de saúde. Saber esfoliar a pele do jeito certo e na frequência certa tira as células mortas, manchas, pelos encravados e cravinhos superficiais, além de estimular a circulação. Massagear seus próprios pés é bem relaxante, nos ombros e pescoço alivia dores. Você pode não saber desfazer os nódulos com tanta competência quanto a massoterapeuta, mas conhecerá melhor cada um deles e poderá refletir de onde eles vieram. Quem gosta de maquiagem, deve aprender a fazer para não cair naquela situação de pagar caro e não gostar do visual.

Cuide-se mais, faça uma pausa na correria e curta os momentos e os resultados em sua saúde física e mental por fazer isso. Você que já cuida do trabalho, da saúde, dos estudos, do carro, da família, da casa e do dinheiro, cuide de você. Você pode e deve tornar-se o maior especialista em você mesmo, sabendo melhor do que ninguém o que deve e não deve ser feito, recebendo ajuda sem ficar dependente, sem ter que esperar o dia da clínica ou salão.

Andréa Voûte

AUTONOMIA

Autonomia é um termo de origem grega cujo significado está relacionado com independência, liberdade ou autossuficiência. Termos que soam bem para todos nós, mas frequentemente pensamos e agimos na direção contrária. Queremos ser donos de nosso destino sem ter que nos esforçar por isso.

O antônimo de autonomia é heteronomia, palavra que indica dependência, submissão ou subordinação. O ideal é chegar à interdependência saudável com liberdade e com limites, sem abusos ou dominação. Na dependência ou co-dependência, tudo fica muito preso, repetindo ciclos doentios que prejudicam aos dois lados.

Ninguém conseguirá ser autônomo em tudo e, se tentar, ficará escravo da própria pretensão. Com esta escravidão deixará de ser livre… Saber fazer não significa ter que executar pessoalmente tudo o tempo todo, significa ter a possibilidade de resolver sozinho caso necessário. Significa coragem para tentar, curiosidade de saber como as coisas funcionam e boa-vontade para domar a preguiça.

Não vivemos isolados e nem é bom que sejamos individualistas. É igualmente importante saber trabalhar em equipe, em sinergia e com união. A força do coletivo não deve ser ignorada, bem como o valor de um grupo engajado, a emoção de participar de algo maior. E o próprio grupo pode ter autonomia em relação ao meio externo e a outros grupos.

Internamente, ser autônomo é pensar livremente, ser emocionalmente independente, conseguir planejar, criar suas próprias regras, saber tomar boas decisões, ter o conhecimento, conseguir imaginar e elaborar coisas sozinho. Autonomia intelectual e emocional, que são complexas e podem levar a vida toda para amadurecer.

Para que a autonomia seja completa, ela deve ser extrapolada para o mundo externo, onde se consegue realizar, consertar, construir, iniciar, fazer do zero e fazer crescer. É então que esbarra-se nos outros e nas leis, sejam elas naturais ou civis. Esbarra-se também em suas próprias fraquezas que não aparecem enquanto estamos na esfera teórica, só na prática.

Trata-se de uma condição que expande os limites, nem sempre precisando derruba-los. É ter um poder que interage com os outros poderes em harmonia sempre que possível. Oferece e aceita ajuda, mais por gentileza do que por necessidade.

Nascemos totalmente dependentes e é natural ganhar cada vez mais autonomia. Ela começa na infância e deve ser estimulada no momento certo de acordo com cada fase de desenvolvimento. Começa com andar, falar, comer e beber sozinho. Depois vem as habilidades do tipo amarrar os sapatos, vestir-se, tomar banho, nadar, socializar-se. Mais tarde são coisas como saber estudar, comunicar-se bem, dirigir.

Ainda há adultos que não sabem gerir a própria vida e vivem como adolescentes em termos de autonomia. Não conseguem pensar sozinhos, cozinhar, trabalhar com seriedade, usar bem o dinheiro, cuidar da própria saúde, criar os filhos, ter um mínimo de autocontrole. A maioria das pessoas usa intensamente a energia elétrica sem entender como ela funciona e assim com diversas outras coisas. Vivemos para a tecnologia e não é mais ela que nos serve, as prioridades estão invertidas.

Terceirizamos demais e isso não custa somente dinheiro, custa um pedaço de nossa liberdade. Pode parecer mais prático, só que assim deixamos de aprender e ficamos nas mãos dos que fazem. E se eles estiverem desesperados por dinheiro e derem alguns jeitinhos de encarecer a conta? E se eles estiverem com pressa e a prioridade for terminar logo em vez da qualidade? E se eles quiserem impressionar hoje, mesmo que isso traga consequências negativas no futuro? E se eles mentirem e omitirem informações importantes, como poderemos julgar? São situações muito comuns, sejamos realistas.

Sabendo se virar, sabendo decidir e sabendo fazer, conseguimos quebrar o vínculo da total dependência e administrar melhor a vida.

Andréa Voûte