Cada segundo dedicado a ler os livros de Cressida Cowell e assistir os filmes e seriados da Dreamworks compensa, eles conseguem lançar novidades sem perder a qualidade. Explorando novas ilhas e novos dragões, essas são suas aventuras favoritas e nossas também! As animações são lindas e dinâmicas, com paisagens deslumbrantes e rica trilha sonora. Alguns detalhes marcantes destaquei a seguir.
Tudo começa em Berk, uma aldeia viking em uma ilha nórdica
no meio do nada. A ilha tinha poucos recursos por limitações geográficas como
neve e granizo e limitações da época em que a história se passa. O povo pescava
e caçava, mas sofria constantes ataques de dragões que roubavam ovelhas e
peixes, provocando incêndios e mutilando ou até matando pessoas. Soluço é o
personagem principal, ele recebeu esse nome viking para espantar gnomos e
trolls.
GUERRA x PAZ
Os vikings viviam em guerra com os dragões e gostavam disto,
quando não tinham com quem brigar brigavam entre si. Eles construíam e usavam
vários tipos de arma como lanças, catapultas, machados, espadas, escudo,
boleadeira. Os vikings acreditavam que os dragões eram inimigos mortais que
deveriam ser combatidos e eliminados em lutas brutas.
A mãe de Soluço achava que a paz era possível e a guerra só
piorava tudo, mas isso não era uma opinião muito popular. “Um dia um dragão
entrou em nossa casa e o que eu vi foi uma prova de tudo o que eu acreditava.
Não era uma besta, mas uma criatura gentil e inteligente, cuja alma refletia a
minha.”
Soluço nunca teve ódio dos dragões e se recusava a lutar com
eles. “Eles mataram centenas de nós e nós matamos milhares deles, estão só se
defendendo.” Ao longo da história, os dragões passaram de pestes a pets e passaram a lutar por eles, contra
os caçadores de dragões. “Com os vikings montados nos dragões, o mundo ficou
muito maior.”
IDENTIDADE
Soluço era desajeitado e desastrado, não tinha muita
coordenação motora e se metia em muitos problemas sem querer. Sofreu bullying a vida toda e queria
pertencer, ser aceito pelo grupo e pelo pai. Ele demorou a se conhecer e a
descobrir quem realmente era. “Sinto muito, pai. Eu não sou o líder que você
queria que eu fosse nem sou o pacificador que eu pensei que fosse.” Soluço agiu
como a mãe sem ter convivido com ela. Quando finalmente a reencontrou,
compreendeu muita coisa sobre a sua natureza. A empatia pelos dragões, o gosto
pela liberdade de voar, a defesa da paz. “Agora sabemos de onde vem minhas
extravagâncias.”
DRAGÕES
São muitos tipos de dragões que a imaginação humana criou
para povoar essas histórias e os todos eram realmente poderosos, perigosos e
ameaçadores. Mas ao mesmo tempo podiam ser fieis e carinhosos. Segundo Soluço,
“Depois que você ganha a lealdade dele, não há nada que um dragão não faça por
você.”
Soluço tentou pegar um dragão para provar seu valor ao pai e
capturou o raríssimo Fúria da Noite. Ao encontra-lo, não conseguiu matá-lo e o
soltou “ele estava tão assustado quanto eu, eu me vi nele”. Fabricou uma
prótese para a parte perdida da cauda e domou o dragão para voar com ele. Soluço
e Banguela eram amigos e cúmplices, depois toda a turma desenvolveu o mesmo,
cada um com seu dragão.
Soluço amava tanto o seu dragão que em muitos momentos abriu
mão de suas vontades e necessidades para o bem do Banguela. Por ele, Soluço
enfrentou seu próprio pai e muitos caçadores, comeu peixe babado, além de
outros sacrifícios que fizeram todos chorar como crianças no último filme (não
queremos spoiler do 3 né?). Sempre tentava proteger e defender o Banguela.
ACEITAÇÃO E RESPEITO
Soluço era introvertido e cultivava o diálogo e o respeito. A
equipe era bastante diversa e todos tinham espaço e se entendiam sem
preconceito. Os gêmeos de inteligência limitada, o gordinho medroso, a menina insensível
e o egoísta impulsivo. Apesar de discutirem e brigarem, valorizavam muito a
amizade. Todos aprendiam mais a cada aventura e assim aumentava a sinergia
entre eles. O apoio da mãe e da namorada Astrid foi fundamental.
Soluço perdeu parte de uma perna defendendo o povo de Berk
em sua primeira grande luta, quando finalmente ganhou o respeito do pai. Nessa
luta todos aceitaram o Soluço como um novo tipo de líder e os dragões como
aliados. Depois se adaptou bem à prótese que Bocão fez para ele e voltou a voar
no “seu” dragão. Com o tempo a autoestima de Soluço foi aumentando e ele assumiu
a liderança mais seguro de si.
COMPREENSÃO E CONHECIMENTO
Soluço estudou os dragões com paciência em teoria e prática.
Observou o comportamento do seu dragão e aprendeu a lidar com os outros baseado
nisto. Descobriu os medos, os carinhos que gostavam, os segredos destes
misteriosos animais.
Quanto mais ele conhecia mais ele se apaixonava pelos
dragões. “Tudo o que sabemos sobre vocês está errado.” Ele usava a mente e os
outros usavam a força bruta. Ele era estratégico e planejava o treinamento baseado
em evidências. Aos poucos foi mostrando aos amigos como era incrível voar e
provou ao pai que os dragões não eram maus.
Soluço era criativo, tinha aptidão para usar as ferramentas,
era engenhoso e construiu equipamentos e armas que os ajudavam no dia-a-dia e
nas guerras. Ele mapeou ilhas antes desconhecidas e fez novas alianças com
povos distantes.
LIDERANÇA
Herdar de Stoico – o imenso – o posto de líder da aldeia era o destino do Soluço, com o qual não se identificava. “Ser o líder não tem nada a ver comigo, fazer discursos e planejamento da aldeia.” O estilo de liderança do filho era completamente democrático e cooperativo. Havia competições e conflitos, mas todos acabavam se entendendo.
Soluço discute com o caçador Drago Sangue Bravo questionando o motivo de todas aquelas mortes e destruição, se era só para governar o mundo. Drago se vangloria por dominar o dragão Alpha e com isso os outros dragões, ele diz que o verdadeiro poder é o poder sobre a vontade dos outros. Soluço contesta afirmando que o verdadeiro líder protege a todos.
QUESTIONAR x OBEDECER
O pai não respeitava a vontade dele e nunca deixava ele
falar. Inúmeras tentativas de conversa por parte do Soluço foram interrompidas
e ninguém o ouvia. Soluço foi pressionado para matar dragões a vida toda, sem
concordar com isso. Na primeira animação – Como Treinar o seu Dragão (2010) –
Soluço tinha 13 anos quando domou Banguela. Em 300 anos foi o primeiro viking
que se recusou a matar um dragão e foi o primeiro a montar em um.
Todos seguiam o destino sem questionar, ele não. Soluço era
teimoso, rebelde e fugia toda hora. Tentava negociar com diplomacia e diálogo
gentil, mas não era muito bom com as palavras. Com ações conseguiu provar o seu
ponto de vista sobre a paz e sobre os dragões.
FORÇAS E FRAQUEZAS
Soluço era magrelo, fraco e distraído, um herói improvável e
nada que lembre um líder. Mas tinha a resiliência e a teimosia dos vikings. Ele
adorava aventuras e não tinha medo da guerra, só não queria matar dragões. Confundiam
esta recusa com uma covardia, mas não era medo, era compaixão.
Há uma boa dose de tentativa e erro e improvisações nas
batalhas. Novos inimigos, novos caçadores, novas ilhas e principalmente novos
dragões. O povo de Berk tem que sobreviver e defender os animais enfrentando
perigos reais sem tempo de planejar. As adversidades naturais somam-se aos
imprevistos vindos dos próprios habitantes de Berk e povos que eles conhecem,
especialmente no seriado.
Tudo isso é tratado com uma serenidade surpreendente por
Soluço e sua turma. (Lembra um pouco Tim dos Caçadores de Trolls.) Eles agem
naturalmente, lidam com a vida em um clima de bom humor contagiante. Usam bem os
poucos recursos que possuem, inclusive material dos próprios dragões. Migram
quando necessário, adaptam-se às novas condições, assumem responsabilidades, respeitam
a natureza (bem, exceto por alguns detalhes como catapultas de ovelhas). As
histórias estimulam nosso espírito de aventura.