(imagem free do Tom’s Guide)
Animação de sucesso da Pixar – Disney em 2007. Sim, é uma fantasia romântica e ingênua, mas…
- O lema do chef Gusteau: “Qualquer um pode cozinhar”. Importantíssimo em tempos de gourmetização de tudo e desvalorização das tarefas domésticas. Cozinhar é fundamental para a sua saúde, suas finanças, sua criatividade, autonomia e pode ser um forte elo entre as pessoas.
- A resposta do Remy ao ver Linguini tentando aventurar-se na culinária: “Qualquer um pode cozinhar, isso não quer dizer que qualquer um deva faze-lo.” Remy comandava Linguini, Colette o treinou e mesmo tendo experiência ele não tornou-se um cozinheiro de verdade. Já no papel de garçom, Linguini se mostrou eficiente. Se aquela atividade não for o seu negócio, aprenda só o básico para se virar e trabalhe com outra coisa.
- O complemento de Gusteau para seu lema: “Não deixe ninguém fixar seus limites baseado em quem você é, seu único limite é a sua alma. Qualquer um pode cozinhar, mas só os destemidos serão notáveis.” Ele destaca a importância da imaginação para criar e da determinação para experimentar combinações e métodos que podem não funcionar. Isso se aplica a várias atividades além da culinária nas quais você queira ganhar dinheiro.
- Remy era um ratinho com olfato e paladar extremamente apurados, o que o tornou o membro da colônia que testava todos os alimentos para ver se não estavam contaminados ou envenenados. Apesar de entender a importância do seu trabalho para o coletivo e de faze-lo com responsabilidade, ele detestava tudo aquilo e não ficou ali por muito tempo.
- Remy admirava os humanos, queria lavar as mãos (patas dianteiras), cozinhar e ler os livros de receitas. Isso não era muito aceito na colônia e especialmente pelo pai dele, que foi se conformando aos poucos. Quando você é muito diferente, ainda que diferenças positivas, talvez não seja o mais popular no seu grupo. O crítico Anton Ego confirma: “O mundo não costuma ser gentil com novos talentos e novas criações. O novo precisa de amigos.”
- As palavras de conforto de Gusteau para Remy: “Se ficar pensando no que perdeu, nunca conseguirá ver o que está por vir.” Para salvar o amado livro de receitas do chef Gusteau, Remy quase morreu e perdeu-se da família. Ao mesmo tempo ele conheceu uma vida nova e começou a conversar com o chef na sua imaginação e a seguir mais os seus ensinamentos. Nem sempre é possível ter um mentor pessoalmente, às vezes ler o que ele escreve e ouvir o que ele fala já fazem uma grande diferença.
- Cada sabor é único e a mistura deles também, assim como os aromas – e as duas coisas estão intimamente ligadas. Eis a parte mais curiosa e interessante da culinária.
- A vida toda Remy lidou com um conflito de cultura sobre o assunto do roubo. Ele estava cansado de roubar como os outros ratos, queria fazer; não queria somente pegar e sim acrescentar algo ao mundo. E Gusteau reforçava constantemente esta ideia: “A comida sempre vem para aqueles que adoram cozinhar. Um cozinheiro faz, um ladrão toma.” Em um momento do filme ele usou o roubo como vingança e quebrou a confiança de Linguini, perdendo o respeito dele por algum tempo.
- Pelo aspecto da Biologia, os ratos tem sua função na natureza como decompositores. Então o pai de Remy explicava que o que eles pegam ninguém queria. E Remy questionava: “Se ninguém quer, porque temos que roubar?” Boa pergunta sobre assuntos que ninguém gosta de pensar, como o nosso resíduo sólido (lixo), o meio ambiente, a cadeia alimentar e os animais considerados pragas.
- Linguini enganou a várias pessoas por um longo tempo. Depois que contou a verdade, perdeu o apoio da maioria, porém os que ficaram com ele abraçaram a causa completamente. Ele tentou preparar o espírito dos ouvintes começando sua confissão assim: “Sei que parece loucura, mas a verdade muitas vezes soa como loucura.”
- O chef Skinner era um tirano e não queria ajudar Linguini, mas teve que dar um emprego a ele, primeiro na limpeza e depois na cozinha. Ele boicotou e dificultou tudo desde o primeiro dia até fechar o restaurante, mas não adiantou porque Linguini abriu outro até melhor com seus amigos. Infelizmente há pessoas que gastam mais tempo atrapalhando do que ajudando, o que acaba prejudicando muito a elas próprias.
- O crítico Anton Ego era muito esnobe mas rendeu-se ao talento de Remy e escreveu uma linda carta no final do filme, que não posso transcrever toda aqui, mas vale a pena ver e rever. Ele reconhece que é bem mais fácil julgar do que fazer: “Uma porcaria medíocre é provavelmente mais significativa do que nossa crítica que assim a designa.” Todos nós que medimos, analisamos, orientamos e criticamos devemos profundo respeito a quem faz.
- O pai de Remy temia e odiava os humanos, chamando-os de inimigos e recomendando cuidado: “É assim que as coisas são. Não se pode mudar a natureza.” Remy recusava-se a incorporar este medo: “A natureza é mudança, pai, a parte que influenciamos. E começa quando decidimos.”
- A família de Remy demorou a aceitar suas estranhas escolhas e sua independência: “É difícil enfrentar o mundo sozinho.” Mas ele tentava mostrar que não tinha volta: “Não sou mais criança, sei me cuidar. … O pássaro um dia deixa o ninho.” O pai se assusta: “Não somos pássaros, somos ratos. Não deixamos o ninho e sim o aumentamos.” Mas em momentos críticos a família salvou Remy, livrando-o da armadilha e até ajudando a cozinhar quando todos abandonaram o restaurante.
- O sucesso repentino subiu à cabeça de Linguini. Depois de ficar rico e famoso devido ao talento de Remy e à herança do pai não reconheceu nada disso, enganando a todos e a si mesmo. Depois ele assumiu que não sabia cozinhar e começou a dar valor aos amigos e à namorada. O poder corrompe, se você deixar.
- Fazer algo em casa para a família é bem diferente de fazer profissionalmente. Colette explica a diferença: “Acha que cozinhar é bonitinho como a mamãe na cozinha? … Mamãe não enfrenta um restaurante lotado, com vários pedidos de pratos diferentes que tem que chegar perfeitos à mesa na mesma hora. Cada segundo conta, não desperdice tempo e energia e não deixe a bagunça acumular.”
- Colette era durona e lutava contra o machismo: “A cozinha tem hierarquia antiquada apoiada em regras feitas por homens velhos e estúpidos, para impossibilitar que as mulheres entrem nesse mundo.” Se nas residências brasileiras quando alguém cozinha ainda é mais comum que seja a mulher, nos restaurantes a maioria dos chefs é do sexo masculino.
- Remy tinha conflitos existenciais: “Finjo ser um rato para o meu pai, um humano para o Linguini e finjo que você (Gusteau) existe para ter com quem conversar.” Remy era antes de tudo um cozinheiro e por este sonho desafiou a morte, arriscou afastar-se da família para ficar entre os humanos, conversou com um fantasma e sofreu com dilemas até aprender a conciliar as coisas sem ter que escolher entre as duas metades de si mesmo.
- O filme incentiva a aceitar as diferenças, contesta preconceitos contra os iniciantes, os fracassados e os ratos. Linguini só entrou no restaurante por um favor à sua mãe, só começou a cozinhar porque derrubou a sopa, dependia totalmente do talento de Remy e só ficou como chef depois de saber que era filho do dono. Remy não conseguia a aprovação de ninguém e sofria preconceito dos humanos e dos ratos.
- Não importa o quanto as coisas estejam ruins agora, elas podem terminar muito bem! Nas vezes em que Remy teve os mais graves problemas – perder-se no esgoto, cair na armadilha do antigo chef, ser caçado em todos os lugares em que aparecia, perder o restaurante – ele venceu, deu a volta por cima em grande estilo, perseguindo seu sonho e melhorando em relação à situação anterior. Anton Ego afirmou: “Nem todos podem se tornar um grande artista, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar.”