Comparação inteligente de preços

Imagem gratuita do Pixabay

As diferentes embalagens dificultam bastante nossa comparação entre os produtos e uma decisão rápida e consciente. Vejam o caso do supermercado, onde o certo seria saber o preço por litro / kilo / metro / unidade, na prateleira. Além disso, vale considerar a qualidade e o rendimento (ou concentração) do produto, que podem variar bastante. Para quem acha que todos os produtos industrializados seguem um padrão mínimo de qualidade, pergunte a quem já visitou ou trabalhou em mais de uma indústria…

Tomemos como exemplo o papel higiênico e o suco pronto.

Rolos de papel higiênico podem ter 30 ou 60 metros. Qual compra vale mais à pena – 8 rolos de 30 metros folha simples comum por $5,69 ou 4 rolos de 30 metros folha dupla macia por $7,14? O simples custa 2 centavos por metro e se dissolve mais facilmente, mas você precisa usar o dobro da quantidade enquanto o macio custa 6 centavos o metro (o triplo), só que rende mais e talvez você possa usar também como lencinho para acudir gripes ou limpar algumas coisas delicadas.

E na hora de comprar o suco, você preferiria um concentrado por $15,00/litro ou pronto por $5,00/litro? Depende da diluição, de quanto rende o concentrado. Sabendo que a maioria dos sucos tem corante, espessante e aromatizante (incluindo os concentrados) você estaria disposto a pagar mais por um produto natural? E por um sabor exótico de fruta do Nordeste ou da Europa? Você acha que vale à pena um suco light ou diet mesmo sem que você seja diabético ou obeso?

A quantidade de opções nos confunde, chegue ao supermercado com algumas ideias já formadas e procure saber o preço por unidade. Minha maior surpresa foi constatar que nem sempre as embalagens de maior quantidade são realmente mais econômicas, acontece de serem do mesmo preço ou até mais caras… Compare!

Qual é o preço do kg de cada alimento que você costuma consumir? E se algum deles for bem leve ou muito pesado, se algum deles você consumir em grande quantidade ou pouquíssimo, também é preciso considerar. Com estes dados, fica mais fácil cruzá-los com as informações nutricionais e decidir onde você está fazendo bons e maus negócios. Vamos a alguns itens de lanche que fiz uma média de supermercados diversos.

ALIMENTO R$/KG PESO QUANTIDADE
frios 50,00 pesado pequena
queijo 40,00 pesado pequena
pão de forma 10,00 leve grande
leite (litro) 3,00 pesado grande
café 20,00 médio pequena
margarina 10,00 pesado pequena
abacate 6,00 pesado pequena
banana 6,00 pesado média
laranja 4,00 pesado média
maçã 6,00 médio média
mamão 8,00 médio pequena
castanhas 90,00 médio pequena

E então?  O que você acha que vale quanto custa? Observe que nem sempre os alimentos saudáveis são os mais caros, pelo contrário.

Andréa Voûte

XX COISAS QUE APRENDI COM RATATOUILLE

(imagem free do Tom’s Guide)

Animação de sucesso da Pixar – Disney em 2007. Sim, é uma fantasia romântica e ingênua, mas…

  1. O lema do chef Gusteau: “Qualquer um pode cozinhar”. Importantíssimo em tempos de gourmetização de tudo e desvalorização das tarefas domésticas. Cozinhar é fundamental para a sua saúde, suas finanças, sua criatividade, autonomia e pode ser um forte elo entre as pessoas.
  2. A resposta do Remy ao ver Linguini tentando aventurar-se na culinária: “Qualquer um pode cozinhar, isso não quer dizer que qualquer um deva faze-lo.” Remy comandava Linguini, Colette o treinou e mesmo tendo experiência ele não tornou-se um cozinheiro de verdade. Já no papel de garçom, Linguini se mostrou eficiente. Se aquela atividade não for o seu negócio, aprenda só o básico para se virar e trabalhe com outra coisa.
  3. O complemento de Gusteau para seu lema: “Não deixe ninguém fixar seus limites baseado em quem você é, seu único limite é a sua alma. Qualquer um pode cozinhar, mas só os destemidos serão notáveis.” Ele destaca a importância da imaginação para criar e da determinação para experimentar combinações e métodos que podem não funcionar. Isso se aplica a várias atividades além da culinária nas quais você queira ganhar dinheiro.
  4. Remy era um ratinho com olfato e paladar extremamente apurados, o que o tornou o membro da colônia que testava todos os alimentos para ver se não estavam contaminados ou envenenados. Apesar de entender a importância do seu trabalho para o coletivo e de faze-lo com responsabilidade, ele detestava tudo aquilo e não ficou ali por muito tempo.
  5. Remy admirava os humanos, queria lavar as mãos (patas dianteiras), cozinhar e ler os livros de receitas. Isso não era muito aceito na colônia e especialmente pelo pai dele, que foi se conformando aos poucos. Quando você é muito diferente, ainda que diferenças positivas, talvez não seja o mais popular no seu grupo. O crítico Anton Ego confirma: “O mundo não costuma ser gentil com novos talentos e novas criações. O novo precisa de amigos.”
  6. As palavras de conforto de Gusteau para Remy: “Se ficar pensando no que perdeu, nunca conseguirá ver o que está por vir.” Para salvar o amado livro de receitas do chef Gusteau, Remy quase morreu e perdeu-se da família. Ao mesmo tempo ele conheceu uma vida nova e começou a conversar com o chef na sua imaginação e a seguir mais os seus ensinamentos. Nem sempre é possível ter um mentor pessoalmente, às vezes ler o que ele escreve e ouvir o que ele fala já fazem uma grande diferença.
  7. Cada sabor é único e a mistura deles também, assim como os aromas – e as duas coisas estão intimamente ligadas. Eis a parte mais curiosa e interessante da culinária.
  8. A vida toda Remy lidou com um conflito de cultura sobre o assunto do roubo. Ele estava cansado de roubar como os outros ratos, queria fazer; não queria somente pegar e sim acrescentar algo ao mundo. E Gusteau reforçava constantemente esta ideia: “A comida sempre vem para aqueles que adoram cozinhar. Um cozinheiro faz, um ladrão toma.” Em um momento do filme ele usou o roubo como vingança e quebrou a confiança de Linguini, perdendo o respeito dele por algum tempo.
  9. Pelo aspecto da Biologia, os ratos tem sua função na natureza como decompositores. Então o pai de Remy explicava que o que eles pegam ninguém queria. E Remy questionava: “Se ninguém quer, porque temos que roubar?” Boa pergunta sobre assuntos que ninguém gosta de pensar, como o nosso resíduo sólido (lixo), o meio ambiente, a cadeia alimentar e os animais considerados pragas.
  10. Linguini enganou a várias pessoas por um longo tempo. Depois que contou a verdade, perdeu o apoio da maioria, porém os que ficaram com ele abraçaram a causa completamente. Ele tentou preparar o espírito dos ouvintes começando sua confissão assim: “Sei que parece loucura, mas a verdade muitas vezes soa como loucura.”
  11. O chef Skinner era um tirano e não queria ajudar Linguini, mas teve que dar um emprego a ele, primeiro na limpeza e depois na cozinha. Ele boicotou e dificultou tudo desde o primeiro dia até fechar o restaurante, mas não adiantou porque Linguini abriu outro até melhor com seus amigos. Infelizmente há pessoas que gastam mais tempo atrapalhando do que ajudando, o que acaba prejudicando muito a elas próprias.
  12. O crítico Anton Ego era muito esnobe mas rendeu-se ao talento de Remy e escreveu uma linda carta no final do filme, que não posso transcrever toda aqui, mas vale a pena ver e rever. Ele reconhece que é bem mais fácil julgar do que fazer: “Uma porcaria medíocre é provavelmente mais significativa do que nossa crítica que assim a designa.” Todos nós que medimos, analisamos, orientamos e criticamos devemos profundo respeito a quem faz.
  13. O pai de Remy temia e odiava os humanos, chamando-os de inimigos e recomendando cuidado: “É assim que as coisas são. Não se pode mudar a natureza.” Remy recusava-se a incorporar este medo: “A natureza é mudança, pai, a parte que influenciamos. E começa quando decidimos.”
  14. A família de Remy demorou a aceitar suas estranhas escolhas e sua independência: “É difícil enfrentar o mundo sozinho.” Mas ele tentava mostrar que não tinha volta: “Não sou mais criança, sei me cuidar. … O pássaro um dia deixa o ninho.” O pai se assusta: “Não somos pássaros, somos ratos. Não deixamos o ninho e sim o aumentamos.” Mas em momentos críticos a família salvou Remy, livrando-o da armadilha e até ajudando a cozinhar quando todos abandonaram o restaurante.
  15. O sucesso repentino subiu à cabeça de Linguini. Depois de ficar rico e famoso devido ao talento de Remy e à herança do pai não reconheceu nada disso, enganando a todos e a si mesmo. Depois ele assumiu que não sabia cozinhar e começou a dar valor aos amigos e à namorada. O poder corrompe, se você deixar.
  16. Fazer algo em casa para a família é bem diferente de fazer profissionalmente. Colette explica a diferença: “Acha que cozinhar é bonitinho como a mamãe na cozinha? … Mamãe não enfrenta um restaurante lotado, com vários pedidos de pratos diferentes que tem que chegar perfeitos à mesa na mesma hora. Cada segundo conta, não desperdice tempo e energia e não deixe a bagunça acumular.”
  17. Colette era durona e lutava contra o machismo: “A cozinha tem hierarquia antiquada apoiada em regras feitas por homens velhos e estúpidos, para impossibilitar que as mulheres entrem nesse mundo.” Se nas residências brasileiras quando alguém cozinha ainda é mais comum que seja a mulher, nos restaurantes a maioria dos chefs é do sexo masculino.
  18. Remy tinha conflitos existenciais: “Finjo ser um rato para o meu pai, um humano para o Linguini e finjo que você (Gusteau) existe para ter com quem conversar.” Remy era antes de tudo um cozinheiro e por este sonho desafiou a morte, arriscou afastar-se da família para ficar entre os humanos, conversou com um fantasma e sofreu com dilemas até aprender a conciliar as coisas sem ter que escolher entre as duas metades de si mesmo.
  19. O filme incentiva a aceitar as diferenças, contesta preconceitos contra os iniciantes, os fracassados e os ratos. Linguini só entrou no restaurante por um favor à sua mãe, só começou a cozinhar porque derrubou a sopa, dependia totalmente do talento de Remy e só ficou como chef depois de saber que era filho do dono. Remy não conseguia a aprovação de ninguém e sofria preconceito dos humanos e dos ratos.
  20. Não importa o quanto as coisas estejam ruins agora, elas podem terminar muito bem! Nas vezes em que Remy teve os mais graves problemas – perder-se no esgoto, cair na armadilha do antigo chef, ser caçado em todos os lugares em que aparecia, perder o restaurante – ele venceu, deu a volta por cima em grande estilo, perseguindo seu sonho e melhorando em relação à situação anterior. Anton Ego afirmou: “Nem todos podem se tornar um grande artista, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar.”