As boas trocas

Sempre há algo para trocar! A troca é uma prática saudável e necessária em vários pontos, ela deixa as relações mais justas e democráticas, permitindo que ambos recebam e doem, permitindo que alternem-se os papeis. Antes do surgimento do dinheiro no século VII A.C. e com ele a compra e venda, os primeiros contratos entre os povos eram de escambo, cada um trocando o que tinha em excesso. Animais, vegetais, sal e metais preciosos eram muito usados. Hoje vemos ainda trocas diversas, algumas tem até contrato para formalizar.

A troca movimenta, ela transfere um objeto abandonado por nós a outra pessoa para a qual ele terá grande utilidade. Para nós era uma coisa velha ocupando espaço e acumulando poeira, mofo e traças. Para o outro é uma novidade, que pode durar anos. Isso funciona com pequenos objetos, imóveis, automóveis – muitas vezes como parte do pagamento, livros, discos, brinquedos, roupas, móveis, etc.

No caso da permuta de serviços, um profissional com tempo disponível tem a oportunidade de mostrar o seu trabalho a outro que se interesse e depois receber um serviço em troca. Assim, eles evitaram dois sistemas caros: o bancário e o tributário.

Ao fazer uma boa troca, passamos por alguns pontos importantes:

– Habilidades de negociação. Trocar o que, com quem, pelo que, quando e onde? É preciso chegar a acordos, tomar decisões, ceder ou não, estimar um valor para as coisas, eventualmente trocar não para nosso próprio uso, mas para depois retrocar ou até mesmo doar.

– Capacidade do desapego. Aceitando separar-nos de nossas posses evoluímos e liberamos espaço. Acumular é um hábito que pode ir crescendo e sem que percebamos ficamos escravizados com medo de perder e medo de faltar. A quantidade de coisas acumuladas nos prende, nos dá trabalho, dificulta a limpeza e o uso das coisas das quais realmente precisamos mas estão no meio da bagunça.

– Criação de novos contatos por afinidade. Através da troca conhecemos pessoas que tem interesses em comum conosco – por ex. um determinado autor de livros. Se for em uma feira de trocas, estaremos em um ambiente de colaboração e boa vontade, com pessoas criativas e dispostas a inovar.

– Viver novas experiências. Chegar em casa com objetos que tem história, cada um trazendo um pouquinho do seu antigo dono e agora começarão nova história conosco. Adquirir coisas sem mexer na carteira, sem desembolsar nenhum Real e transmitir o que era nosso nem receber dinheiro algum. Constatar que aos olhos dos outros o que para nós tem alto valor pode não ser interessante ou vice-versa…

Experimente! Eu já participei de algumas feiras de trocas – como organizadora ou não – e gostei de todas.

Andréa Voûte

Lançamento do livro

Clio Editora e Livraria da Vila convidam para o lançamento do livro
“Finanças pessoais – Uma gestão eficaz”
de Andréa Voûte e Plínio Barreto da Silva
Dia 02/10/15 – Das 18h30 às 21h30
Alameda Lorena, 1731 – Jardim Paulista Piso superior – Fone: 3062-1063

Vale tudo

Digamos que uma pessoa já tenha comprado a ideia de ser uma boa investidora e tenha adotado como meta em sua vida desenvolver a sua inteligência financeira. É verdade que há várias formas de atingir esta meta e vários estilos de administração do dinheiro, mas com limites, não é um vale tudo.

É nas mentiras necessárias, nas traições leves, nos pequenos roubos, nas contravenções que todo mundo faz e nas desonestidades toleradas que o vale tudo começa. Vale tudo para “chegar lá”? Lá onde? E se o “lá” não for o que se esperava ou se mudar de lugar? Sei lá… Vale tudo para “ser alguém”? Alguém rico e pronto? Alguém de sucesso não importa no que? E em nome de “subir na vida” vale agir como se fosse o ser mais importante do mundo? Pagando bem, que mal tem?

Não dá para sair ganhando em tudo, é preciso buscar o ganha-ganha. O custe o que custar até certo ponto é persistência e portanto parte da inteligência financeira, mas passar por cima de tudo e de todos é egoísmo. Quem fizer negócios baseado nestes conceitos, terá que se esforçar cada vez mais para encontrar novos parceiros. Aqueles com quem a pessoa já trabalhou não confiam mais nela. Alguns a considerarão indesejável ou até mesmo um inimigo a temer. Clientes a quem esta pessoa prometeu e não cumpriu, sócios que ela enganou, fornecedores que humilhou, colegas de quem roubou ideias. Esperteza com os números, habilidades de negociação e técnicas de venda fazem parte da inteligência financeira, desde que não se ultrapasse a linha da ética. Aceitar dinheiro para fazer coisas que a pessoa sabe que são erradas costumava ter o nome de corrupção.

Reduzir os custos compartilhando forçosamente a rede sem fio e a energia elétrica dos parentes e vizinhos não vale. Economizar no lazer esquecendo a carteira pode estragar as relações. Ligar a cobrar e ter aquele celular que só serve para receber ligações, fazer visitas sempre na hora do almoço e pedir tudo emprestado não é inteligência financeira, é exploração.

Privacidade com relação ao patrimônio que se possui é um direito de todos, embora o governo cobre estas informações na declaração do imposto de renda, ninguém precisa ficar alardeando quanto tem, deve, ganha ou gasta. Mas deixar de atender a uma necessidade ou de pagar uma dívida para que “sobre” dinheiro para investir não é inteligência financeira, é distorção do conceito de reserva. E para ter inteligência financeira não basta ter reserva. é preciso saber o que fazer com ela.  Consumir sempre o mínimo possível, cortando todos os luxos, é sempre inteligência financeira ou às vezes trata-se de avareza?

São várias escolhas por dia, especialmente as que envolvem o dinheiro. Networking por exemplo é ótimo, um pouco de política e cordialidade, sem cair na bajulação. Ausência de ambição é uma coisa deprimente que atrasa a vida da pessoa, mas a ganância insaciável também é um problema que a tornará eternamente infeliz. Vale tudo para ter uma boa renda e um bom padrão de vida? Isso não se chama inteligência financeira, o nome disto é prostituição.

Muitas pessoas ganham rios de dinheiro e vivem no mundo do luxo à custa de prejudicar outras, direta ou indiretamente. Os golpistas se consideram criativos e ágeis, mas tem tanta gente boa que esbanja criatividade… Vale viver do crime e morrer cedo, após uma vida extremamente tensa, de constantes ameaças e fugas, colecionando inimigos? Negócios escusos, com colarinho branco ou não, nunca foram inteligência financeira, mas sim bandidagem.

Vale tudo para parecer ter? Supervalorizar grifes a ponto de endividar-se para sentir-se parte da elite ou a ponto de comprar produtos falsificados, que não tem compromisso nenhum com a qualidade, só para parecer que pode, não é inteligente, é brega e fútil. Viajar correndo de um lugar para o outro sem conhecer realmente, só para dizer que já foi lá, não é inteligência financeira, é uma pena.

Aproveitar uma grande liquidação para comprar usando o limite do cheque especial, adquirir cupons das ofertas do dia que depois não são usados, comprar financiado para não mexer nos investimentos, fazer malabarismo financeiro com as datas dos vários cartões de crédito… Muitas situações que parecem vantajosas não tem nada de inteligência financeira, acabam em grandes prejuízos de tempo e dinheiro.

Não, não vale tudo para “se dar bem na vida”. E ainda há muita gente de sucesso com ética, que bom.