Os sapos que temos que engolir na vida

Mark Twain diz que se você tiver que engolir um sapo vivo, faça isso logo cedo, assim nada pior poderá acontecer com você no resto do dia… http://www.goodreads.com/quotes/show/168105

O seu sapo pode ser um processo burocrático, com intermináveis formulários, cópias, assinaturas e todas aquelas atividades que parecem feitas só para irritar, mesmo quando são necessárias para a sua própria segurança. O seu sapo pode ser uma dívida que faz você sentir-se muito mal só de pensar nela e não quer ou não consegue pagar. Goste do sapo ou não, ele é real e se ele é seu, algum dia você o tomou. Tem sapos que são obrigações sociais, cheias de formalidades entediantes ou interações forçadas. Eles podem ser o preço de alguns relacionamentos ou cargos que você assumiu. Os sapos das tarefas domésticas que você não acredita que já tem que fazer de novo existem para todo mundo, mas alguns lidam com isso melhor do que outros. E os sapos em forma de trabalhos acadêmicos ou grandes projetos tão difíceis e trabalhosos que parecem impossíveis?

Não adianta esperar a vontade chegar, ninguém tem apetite para sapos. O que algumas pessoas tem é um senso de responsabilidade que as faz comer o que tem que ser comido. Não adianta fugir do sapo, ele pula atrás de você e te alcança, o que na verdade você já sabia que aconteceria. Pense bem antes de aceitar um sapo, mas depois que ele estiver lá, coma logo. Postergar não faz os sapos desaparecerem como nas suas ilusões. Eles vão incomodar por muito mais tempo. Tornam-se uma fonte de stress dupla, agora além de ter que cumprir uma obrigação desagradável o seu prazo encurtou e as chances de dar errado aumentaram. Você passa dias olhando para eles e pensando neles, sentindo o terrível gosto de sapo antes de colocá-los na boca. Você pode sentir a desconfortável sensação de estar sendo covarde e infantil. Você acaba prejudicando outras atividades prazerosas e importantes, às vezes perde raras oportunidades enquanto está ocupado com o sapo.

Sei que ninguém quer começar o dia fazendo o que não gosta. Então se não for na primeira hora do dia, que seja na sua primeira hora de trabalho. Quanto pior a obrigação, mais rápido devemos nos livrar dela. Não consegue comer a seco? Escolha acompanhamentos e bebidas para disfarçar o gosto do sapo. Não consegue comer inteiro? Fatie. Coma direito, não com má vontade ou pela metade, termine o que começou. Peça ajuda ou delegue se possível, o que não significa jogar o sapo no colo do outro pensando que ele pode até gostar do bicho. Não piore a situação porque os sapos podem voltar, já meio mastigados e mais melecados, te obrigando a recomeçar! Não tente comer todos os sapos juntos, um de cada vez já está bom demais. Depois de resolver, faça algo para evitar novos sapos e mudar o sistema se for melhor para todos.

Felizes aqueles que temperam o sapo com paciência e o comem logo pela manhã, assim passam o resto do dia livres. De repente podem até descobrir que não era tão ruim assim e mesmo se for, o desgosto será o mesmo de quem adiou, só que acaba rápido e os deixa livres para produzir e viver com tranquilidade. Eles sabem que nem tudo que está em nossa lista de coisas a fazer é um processo fácil e gostoso, mas certas coisas fazemos pelo resultado ou porque elas são degraus para chegarmos às outras coisas realmente importantes. Agora com licença que vou lá temperar os meus sapos e me livrar deles o mais rápido possível…

Postura ativa e responsável

Imagine que estejamos vivendo um dia normal, quando de repente surge um imprevisto. Sabemos que isso pode acontecer e que são várias as atitudes que podemos tomar. Digamos que nossas reações em determinados momentos podem ter uma tendência ativa e, em outros momentos, passiva. Vamos ver o exemplo abaixo:

Uma pessoa, em um ato bastante comum e aparentemente generoso, empresta seu cartão de crédito para uma amiga fazer compras. Essa pessoa possivelmente acabará, com problemas e talvez o nome sujo na praça. Se isso acontecer, pela postura passiva adotada – provavelmente por considerar a amiga confiável – está claro que ela é igualmente responsável pela situação criada. Em situações assim, também é comum que, para não ficar chato, ela não cobre a amiga. Magoada e constrangida ela fala com o banco, reclama dos juros, perde tempo, dinheiro e, como não poderia deixar de ser, a amizade fica abalada. Para evitar esse tipo de situação, adotar uma postura “ativa” é sempre a melhor solução, que, nesse caso, seria simplesmente ter dito, de forma delicada, que não poderia emprestar o cartão. Talvez acompanhada de uma orientação de como não precisar pedir emprestado o cartão alheio para que a amiga também seja mais ativa e autônoma em suas finanças.

Nesse exemplo estamos falando de escolhas possíveis, sendo que a mais “fácil” pode tornar uma pessoa vítima das circunstâncias. A mais “difícil”, porém, poderá evitar problemas e trará mais tranquilidade no futuro. Decisões desse tipo tranquilizam e enriquecem. O autocontrole é bem melhor do que tentar controlar o outro; o autoconhecimento primeiro e depois conhecer o outro; a autocrítica é mais útil do que criticar o outro, a autoestima é mais importante do que os aplausos alheios.

Ser adulto é fazer a nossa parte primeiro, é vencer a preguiça, é ter coragem, é persistir, é ter palavra e sustentar-se. Você já observou uma pessoa imatura e pensou que caberia aos pais não mimarem os filhos e aos filhos recusarem os mimos? Isso se estende a outras relações também, por exemplo entre chefes e funcionários, entre marido e mulher ou até entre prestadores de serviços e clientes. Pessoas dependentes que ficam procurando alguém para seguir e pessoas mimadas que ficam procurando alguém que as sirva não se desenvolvem, não conquistam nada e desperdiçam o seu potencial no tédio da vida passiva.

Exemplos de perguntas improdutivas: Quem é o culpado?  O que pode ser pior do que isso?  Quem vai pagar por isso?  Como posso provar que estou certo?  Quando as coisas vão mudar?

Exemplos de perguntas produtivas: O que eu posso fazer para resolver ou minimizar o problema? O que eu posso aprender com isso? O que eu posso fazer para evitar que aconteça novamente? Como aceitar e me adaptar ao que não tenho sob controle? 

Andréa Voûte