Risco – start e stop

Conceitos usados no mercado financeiro podem e devem ser aplicados em gestão de empresas, de projetos e qualquer situação pessoal ou profissional que envolva riscos.

Start ou Gatilho de entrada é um fato, um número ou uma situação que seja favorável ao sucesso, portanto no caso do gatilho tornar-se real, você deve entrar no negócio, comprar ou investir. Um exemplo simples seria saber de futuros empreendimentos vizinhos ao imóvel que você pensa em comprar ou construir. Stop ou Gatilho de saída é um indicador de que algo vai mal e tende a piorar, te dando prejuízo ou problemas legais, devendo ser respeitado para você se retirar do negócio. Um exemplo é perceber que o valor atual está muito acima do valor justo.

Ora, se foi você mesmo quem determinou o gatilho, então é óbvio que você saberá a hora certa de comprar ou vender e não precisa do gatilho! Isso parece bonito na teoria, mas na prática não funciona quando os valores são maiores, como é comum no mercado de risco. Saber a hora de parar é uma arte que exige muito autocontrole. As emoções interferem no conhecimento técnico e você não consegue fazer o que deveria… Ex: no start o excesso de confiança que o faz entrar antes da hora ou o medo que o paralisa e impede de entrar na hora certa, no stop a recusa em assumir o erro e portanto o prejuízo ou a ganância que o impede de sair durante a alta. Mesmo usando Start e Stop não há garantias, mas aumentam muito suas chances de sucesso.

Digamos que você simpatize com um novo grupo e comece a frequentá-lo. Mas tem certas desconfianças e estabelece três sinais de perigo:  1. as pessoas que saíram do grupo são maltratadas, ameaçadas, etc;  2. depois de um tempo lá, mudam radicalmente de comportamento, fazendo coisas que nunca fariam só porque o líder mandou ou porque todo mundo faz;  3. a maioria dos integrantes vive pior do que vivia quando entrou. Você só tem consciência disso antes de entrar, depois o grupo se adapta e parece tudo normal. Chegando nisto, tem que sair, não é para ficar filosofando ou dando desculpas, foi o seu lado inteligente e lúcido que decidiu que é o caso de sair e pronto.

Depois de estar emocionalmente envolvido, apegado e comprometido, você perde parte da clareza mental. Você pensa: já fiz tanta coisa, agora não vou desistir. Ou: admitir que fracassei seria terrível. Ou ainda: Agora que já estamos quase chegando e o sucesso pode estar na próxima esquina, vamos em frente. Ou vai cozinhando aos poucos na água do abuso, sem perceber, como a história do sapo na panela (se tivesse entrado direto na água fervendo, teria fugido).

São os seus limites! Os bandidos tem limites, as prostitutas tem limites, os políticos tem limites. Todo mundo tem um ponto do qual não quer ultrapassar e ele impacta no seu caráter e sua honra. Já sabemos que tudo que fazemos de errado aparece mais e dura mais na memória.

Os gatilhos podem ser em tempo, dinheiro, sintomas de saúde, abusos, stress ou qualquer outra condição que mude significativamente o jogo. Por exemplo, um negócio. Se daqui a dois anos a empresa estiver viva e saudável, eu entro. Se for escalável, eu invisto. Se determinada pessoa entrar na sociedade, eu saio. Se me causar insônia por uma semana seguida, eu vendo. Se o endividamento chegar ao valor X, eu fecho.

Saiba o que você realmente quer da vida, o que te motiva e inspira. Mantenha isso em mente todos os dias e construa seus gatilhos de entrada baseados em critérios reais. Busque tudo o que harmonize com os seus valores, seus propósitos e aquilo que você tem de melhor. Agarre as oportunidades e envolva-se com o que acrescenta e constrói, o que enriquece em todos os sentidos a você e ao máximo de pessoas possível.

Defina claramente o intolerável, o inadmissível, o inaceitável. Você pode se adaptar, isso é inteligente e necessário, mas só até a página dois. Superar os seus limites pode ser a coisa mais linda ou pode ser fatal, já que risco e retorno andam juntos. Defina o absurdo, o escravizante e o insano e lembre-se bem dessas definições. Você pode mudar de ideia ou até amadurecer e expandir o limite, mas ele ainda existirá. No caso de tudo estar tão diferente a ponto de o gatilho não fazer mais sentido, pelo menos analise, mude a estratégia e tome uma atitude.

Os desejos e a liberdade

Tantas coisas almejamos fazer com nosso dinheiro que já não sabemos o que nasceu em nosso interior e o que foi influência de quem convivemos ou “implantado” pelas grandes empresas, já que os mecanismos do marketing moderno são sofisticadíssimos e sutis. Hoje o marketing conhece nosso cérebro e comportamento melhor do que nós mesmos.

Vamos resolver isso então! Mergulhemos cada vez mais no autoconhecimento, observando diariamente a nós mesmos. Prestemos atenção nos números, nas emoções ao ganhar, gastar, poupar, investir, perder e doar. Parece que gastar traz felicidade, que merecemos mais, que podemos tudo, que as condições de pagamento estão facilitadas, mas racionalmente já sabemos que não é bem assim.

Como transformar um rico em pobre, um feliz em infeliz, um calmo em estressado? A fórmula é bem simples, faça ele desejar cada vez mais e gastar tudo o que tem e mais um pouco, faça ele sentir-se ultrapassado e por fora, aumente as expectativas e chame os luxos de necessidade. Toda a sua riqueza será engolida pelos juros, toda a sua satisfação será sufocada pela ambição insaciável e toda a sua calma será atormentada pelas dívidas e dúvidas sobre conseguir cumprir todos os compromissos que gerou.

Uma das coisas que a maioria das pessoas felizes tem em comum é gostar do que tem e dar valor às pequenas coisas. Só que estamos expostos a milhares de propagandas por dia que nos dizem claramente ou insinuam o contrário. Somos atraídos para a novidade, seduzidos pela perfeição, induzidos ao prazer do consumo e levados a acreditar que temos coisas antiquadas e uma vida sem graça. Não se trata de uma teoria da conspiração para deixar a todos mal, basta que quem venda algo seja egoísta e não se importe verdadeiramente com o consumidor nem com o meio-ambiente. É quem gasta que precisa ter muita consciência.

Tenho visto pobres que ganham muito bem e vivem no luxo, mas se ficarem um mês sem trabalhar seu castelo de areia desmorona e estão em sérios apuros. Tenho visto pessoas de natureza simples serem influenciadas pelo consumismo e aumentarem a sofisticação gradualmente até o ponto da futilidade. Tenho visto vaidosos que trocam o cuidar-se por produzir-se e ainda que gostem do que veem no espelho, não se reconhecem ali e, sem todos os acessórios e recursos, ao saírem do banho sentem-se incompletos, quando deveria ser o contrário. Tenho visto ricos que financiam o consumismo alheio e são coniventes com a preguiça dos seus dependentes, comprando assim o afeto e a presença de quem deveria estar por perto naturalmente.

Não precisamos nos torturar inutilmente por valores irrelevantes nem poupar cada centavo, não nos permitindo usufruir do fruto de nosso trabalho, é claro. É uma questão de cuidar da sanidade mental e da liberdade, evitando nos deixar escravizar por coisas que na verdade não importam.