AUTONOMIA FINANCEIRA

Quando você pensa em uma pessoa financeiramente autônoma, a primeira ideia que vem à sua mente é a de pagar suas próprias contas, certo? De preferência em dia, à vista e com seu próprio dinheiro. Nos casos de divisão de contas com alguém, saber planejar e negociar uma divisão justa, mantendo a consciência dos valores que o outro paga também. Tentar não explorar as pessoas mais próximas, transbordando nelas seus problemas e não se deixar explorar pelas instituições financeiras com seu crédito caro. Difícil ter autonomia, liberdade e independência sem pagar suas próprias contas. Que isso seja a regra e não a exceção, pois é mesmo a habilidade mais importante, mas não a única.

Como somos todos consumidores, devemos saber identificar o preço justo, pesquisar e comprar bem. Aprimorar constantemente a arte de negociar com firmeza e honestidade para chegar ao melhor resultado possível. Saber vender colabora para a sua autonomia, mesmo que hoje essa não seja a sua atividade principal. Se você for independente, aprenderá a negociar doações, empréstimos e cobrar quem lhe deve; se ainda não for, estará negociando na outra ponta. Se você cair no consumismo deixará de ser sustentável e isso pode comprometer toda a sua autonomia, mesmo que possua as outras habilidades. Negocie com você mesmo também.

Para evitar problemas gerados por outros, é bom deixar de ser ingênuo e aprender a reconhecer os oportunistas que não te respeitam, identificar mentiras, barrar o egoísmo alheio, mostrar os limites aos folgados. Agir corretamente e conhecer a si mesmo e aos outros cria boa-vontade e evita as situações em que um sai prejudicado. Por outro lado, é bom entender o mínimo sobre as leis que mais te afetam e contar com bons advogados e especialistas a quem possa consultar e acionar em caso de necessidade. Cercar-se de cuidados para prevenir golpes e abusos ajuda a não perder a independência financeira que você conquistou, sem exagerar na desconfiança.

Quem escolheu a sua carreira? Ter mentores e modelos para inspiração e aprendizado não significa deixar outra pessoa pensar por você. Aceitar ajuda para divulgar o seu trabalho, uma indicação ou venda comissionada tudo bem, mas analise com seus próprios parâmetros se é isso mesmo que você quer ou se dará conta. Decisões de onde trabalhar, onde estudar, que profissão seguir e quando parar de trabalhar são pessoais e intransferíveis. Levar em consideração a família é diferente de sacrificar-se cegamente por ela. Deixar a ambição falar mais alto do que tudo e colocar o dinheiro em primeiro lugar costuma decepcionar no final, ignorá-lo também.

Pelo menos por algum tempo, alimente os seus próprios controles financeiros e faça isso detalhada e cuidadosamente. Aprenda sobre tecnologia e use-a a seu favor. Participe dos procedimentos burocráticos resolvendo seus próprios problemas. Estreite sua relação com os bancos, leia seus extratos e saiba de cabeça quanto ganha, gasta, tem e deve. Entenda e renegocie as dívidas. Aprenda a poupar e investir, estude você mesmo sobre investimentos e acompanhe notícias de Economia. Eis um ponto fundamental da autonomia financeira que pode facilitar o planejamento estratégico, a paz e a prosperidade ou facilitar as fraudes, descontroles e dívidas. Planejar as finanças é gostoso, experimente (ou alguém o fará por você)! Contrate ajuda e participe ativamente, lembrando que a melhor pessoa para cuidar do seu dinheiro ainda é você mesmo.

Andréa Voûte

Vale tudo

Digamos que uma pessoa já tenha comprado a ideia de ser uma boa investidora e tenha adotado como meta em sua vida desenvolver a sua inteligência financeira. É verdade que há várias formas de atingir esta meta e vários estilos de administração do dinheiro, mas com limites, não é um vale tudo.

É nas mentiras necessárias, nas traições leves, nos pequenos roubos, nas contravenções que todo mundo faz e nas desonestidades toleradas que o vale tudo começa. Vale tudo para “chegar lá”? Lá onde? E se o “lá” não for o que se esperava ou se mudar de lugar? Sei lá… Vale tudo para “ser alguém”? Alguém rico e pronto? Alguém de sucesso não importa no que? E em nome de “subir na vida” vale agir como se fosse o ser mais importante do mundo? Pagando bem, que mal tem?

Não dá para sair ganhando em tudo, é preciso buscar o ganha-ganha. O custe o que custar até certo ponto é persistência e portanto parte da inteligência financeira, mas passar por cima de tudo e de todos é egoísmo. Quem fizer negócios baseado nestes conceitos, terá que se esforçar cada vez mais para encontrar novos parceiros. Aqueles com quem a pessoa já trabalhou não confiam mais nela. Alguns a considerarão indesejável ou até mesmo um inimigo a temer. Clientes a quem esta pessoa prometeu e não cumpriu, sócios que ela enganou, fornecedores que humilhou, colegas de quem roubou ideias. Esperteza com os números, habilidades de negociação e técnicas de venda fazem parte da inteligência financeira, desde que não se ultrapasse a linha da ética. Aceitar dinheiro para fazer coisas que a pessoa sabe que são erradas costumava ter o nome de corrupção.

Reduzir os custos compartilhando forçosamente a rede sem fio e a energia elétrica dos parentes e vizinhos não vale. Economizar no lazer esquecendo a carteira pode estragar as relações. Ligar a cobrar e ter aquele celular que só serve para receber ligações, fazer visitas sempre na hora do almoço e pedir tudo emprestado não é inteligência financeira, é exploração.

Privacidade com relação ao patrimônio que se possui é um direito de todos, embora o governo cobre estas informações na declaração do imposto de renda, ninguém precisa ficar alardeando quanto tem, deve, ganha ou gasta. Mas deixar de atender a uma necessidade ou de pagar uma dívida para que “sobre” dinheiro para investir não é inteligência financeira, é distorção do conceito de reserva. E para ter inteligência financeira não basta ter reserva. é preciso saber o que fazer com ela.  Consumir sempre o mínimo possível, cortando todos os luxos, é sempre inteligência financeira ou às vezes trata-se de avareza?

São várias escolhas por dia, especialmente as que envolvem o dinheiro. Networking por exemplo é ótimo, um pouco de política e cordialidade, sem cair na bajulação. Ausência de ambição é uma coisa deprimente que atrasa a vida da pessoa, mas a ganância insaciável também é um problema que a tornará eternamente infeliz. Vale tudo para ter uma boa renda e um bom padrão de vida? Isso não se chama inteligência financeira, o nome disto é prostituição.

Muitas pessoas ganham rios de dinheiro e vivem no mundo do luxo à custa de prejudicar outras, direta ou indiretamente. Os golpistas se consideram criativos e ágeis, mas tem tanta gente boa que esbanja criatividade… Vale viver do crime e morrer cedo, após uma vida extremamente tensa, de constantes ameaças e fugas, colecionando inimigos? Negócios escusos, com colarinho branco ou não, nunca foram inteligência financeira, mas sim bandidagem.

Vale tudo para parecer ter? Supervalorizar grifes a ponto de endividar-se para sentir-se parte da elite ou a ponto de comprar produtos falsificados, que não tem compromisso nenhum com a qualidade, só para parecer que pode, não é inteligente, é brega e fútil. Viajar correndo de um lugar para o outro sem conhecer realmente, só para dizer que já foi lá, não é inteligência financeira, é uma pena.

Aproveitar uma grande liquidação para comprar usando o limite do cheque especial, adquirir cupons das ofertas do dia que depois não são usados, comprar financiado para não mexer nos investimentos, fazer malabarismo financeiro com as datas dos vários cartões de crédito… Muitas situações que parecem vantajosas não tem nada de inteligência financeira, acabam em grandes prejuízos de tempo e dinheiro.

Não, não vale tudo para “se dar bem na vida”. E ainda há muita gente de sucesso com ética, que bom.