O HERÓI IMPROVÁVEL

Cada segundo dedicado a ler os livros de Cressida Cowell e assistir os filmes e seriados da Dreamworks compensa, eles conseguem lançar novidades sem perder a qualidade. Explorando novas ilhas e novos dragões, essas são suas aventuras favoritas e nossas também! As animações são lindas e dinâmicas, com paisagens deslumbrantes e rica trilha sonora. Alguns detalhes marcantes destaquei a seguir.

Tudo começa em Berk, uma aldeia viking em uma ilha nórdica no meio do nada. A ilha tinha poucos recursos por limitações geográficas como neve e granizo e limitações da época em que a história se passa. O povo pescava e caçava, mas sofria constantes ataques de dragões que roubavam ovelhas e peixes, provocando incêndios e mutilando ou até matando pessoas. Soluço é o personagem principal, ele recebeu esse nome viking para espantar gnomos e trolls.

GUERRA x PAZ

Os vikings viviam em guerra com os dragões e gostavam disto, quando não tinham com quem brigar brigavam entre si. Eles construíam e usavam vários tipos de arma como lanças, catapultas, machados, espadas, escudo, boleadeira. Os vikings acreditavam que os dragões eram inimigos mortais que deveriam ser combatidos e eliminados em lutas brutas.

A mãe de Soluço achava que a paz era possível e a guerra só piorava tudo, mas isso não era uma opinião muito popular. “Um dia um dragão entrou em nossa casa e o que eu vi foi uma prova de tudo o que eu acreditava. Não era uma besta, mas uma criatura gentil e inteligente, cuja alma refletia a minha.”

Soluço nunca teve ódio dos dragões e se recusava a lutar com eles. “Eles mataram centenas de nós e nós matamos milhares deles, estão só se defendendo.” Ao longo da história, os dragões passaram de pestes a pets e passaram a lutar por eles, contra os caçadores de dragões. “Com os vikings montados nos dragões, o mundo ficou muito maior.”

IDENTIDADE

Soluço era desajeitado e desastrado, não tinha muita coordenação motora e se metia em muitos problemas sem querer.  Sofreu bullying a vida toda e queria pertencer, ser aceito pelo grupo e pelo pai. Ele demorou a se conhecer e a descobrir quem realmente era. “Sinto muito, pai. Eu não sou o líder que você queria que eu fosse nem sou o pacificador que eu pensei que fosse.” Soluço agiu como a mãe sem ter convivido com ela. Quando finalmente a reencontrou, compreendeu muita coisa sobre a sua natureza. A empatia pelos dragões, o gosto pela liberdade de voar, a defesa da paz. “Agora sabemos de onde vem minhas extravagâncias.”

DRAGÕES

São muitos tipos de dragões que a imaginação humana criou para povoar essas histórias e os todos eram realmente poderosos, perigosos e ameaçadores. Mas ao mesmo tempo podiam ser fieis e carinhosos. Segundo Soluço, “Depois que você ganha a lealdade dele, não há nada que um dragão não faça por você.”

Soluço tentou pegar um dragão para provar seu valor ao pai e capturou o raríssimo Fúria da Noite. Ao encontra-lo, não conseguiu matá-lo e o soltou “ele estava tão assustado quanto eu, eu me vi nele”. Fabricou uma prótese para a parte perdida da cauda e domou o dragão para voar com ele. Soluço e Banguela eram amigos e cúmplices, depois toda a turma desenvolveu o mesmo, cada um com seu dragão.

Soluço amava tanto o seu dragão que em muitos momentos abriu mão de suas vontades e necessidades para o bem do Banguela. Por ele, Soluço enfrentou seu próprio pai e muitos caçadores, comeu peixe babado, além de outros sacrifícios que fizeram todos chorar como crianças no último filme (não queremos spoiler do 3 né?). Sempre tentava proteger e defender o Banguela.

ACEITAÇÃO E RESPEITO

Soluço era introvertido e cultivava o diálogo e o respeito. A equipe era bastante diversa e todos tinham espaço e se entendiam sem preconceito. Os gêmeos de inteligência limitada, o gordinho medroso, a menina insensível e o egoísta impulsivo. Apesar de discutirem e brigarem, valorizavam muito a amizade. Todos aprendiam mais a cada aventura e assim aumentava a sinergia entre eles. O apoio da mãe e da namorada Astrid foi fundamental.

Soluço perdeu parte de uma perna defendendo o povo de Berk em sua primeira grande luta, quando finalmente ganhou o respeito do pai. Nessa luta todos aceitaram o Soluço como um novo tipo de líder e os dragões como aliados. Depois se adaptou bem à prótese que Bocão fez para ele e voltou a voar no “seu” dragão. Com o tempo a autoestima de Soluço foi aumentando e ele assumiu a liderança mais seguro de si.

COMPREENSÃO E CONHECIMENTO

Soluço estudou os dragões com paciência em teoria e prática. Observou o comportamento do seu dragão e aprendeu a lidar com os outros baseado nisto. Descobriu os medos, os carinhos que gostavam, os segredos destes misteriosos animais.

Quanto mais ele conhecia mais ele se apaixonava pelos dragões. “Tudo o que sabemos sobre vocês está errado.” Ele usava a mente e os outros usavam a força bruta. Ele era estratégico e planejava o treinamento baseado em evidências. Aos poucos foi mostrando aos amigos como era incrível voar e provou ao pai que os dragões não eram maus.

Soluço era criativo, tinha aptidão para usar as ferramentas, era engenhoso e construiu equipamentos e armas que os ajudavam no dia-a-dia e nas guerras. Ele mapeou ilhas antes desconhecidas e fez novas alianças com povos distantes.

LIDERANÇA

Herdar de Stoico – o imenso – o posto de líder da aldeia era o destino do Soluço, com o qual não se identificava. “Ser o líder não tem nada a ver comigo, fazer discursos e planejamento da aldeia.” O estilo de liderança do filho era completamente democrático e cooperativo. Havia competições e conflitos, mas todos acabavam se entendendo.

Soluço discute com o caçador Drago Sangue Bravo questionando o motivo de todas aquelas mortes e destruição, se era só para governar o mundo. Drago se vangloria por dominar o dragão Alpha e com isso os outros dragões, ele diz que o verdadeiro poder é o poder sobre a vontade dos outros. Soluço contesta afirmando que o verdadeiro líder protege a todos.

QUESTIONAR x OBEDECER

O pai não respeitava a vontade dele e nunca deixava ele falar. Inúmeras tentativas de conversa por parte do Soluço foram interrompidas e ninguém o ouvia. Soluço foi pressionado para matar dragões a vida toda, sem concordar com isso. Na primeira animação – Como Treinar o seu Dragão (2010) – Soluço tinha 13 anos quando domou Banguela. Em 300 anos foi o primeiro viking que se recusou a matar um dragão e foi o primeiro a montar em um.

Todos seguiam o destino sem questionar, ele não. Soluço era teimoso, rebelde e fugia toda hora. Tentava negociar com diplomacia e diálogo gentil, mas não era muito bom com as palavras. Com ações conseguiu provar o seu ponto de vista sobre a paz e sobre os dragões.

FORÇAS E FRAQUEZAS

Soluço era magrelo, fraco e distraído, um herói improvável e nada que lembre um líder. Mas tinha a resiliência e a teimosia dos vikings. Ele adorava aventuras e não tinha medo da guerra, só não queria matar dragões. Confundiam esta recusa com uma covardia, mas não era medo, era compaixão.

Há uma boa dose de tentativa e erro e improvisações nas batalhas. Novos inimigos, novos caçadores, novas ilhas e principalmente novos dragões. O povo de Berk tem que sobreviver e defender os animais enfrentando perigos reais sem tempo de planejar. As adversidades naturais somam-se aos imprevistos vindos dos próprios habitantes de Berk e povos que eles conhecem, especialmente no seriado.

Tudo isso é tratado com uma serenidade surpreendente por Soluço e sua turma. (Lembra um pouco Tim dos Caçadores de Trolls.) Eles agem naturalmente, lidam com a vida em um clima de bom humor contagiante. Usam bem os poucos recursos que possuem, inclusive material dos próprios dragões. Migram quando necessário, adaptam-se às novas condições, assumem responsabilidades, respeitam a natureza (bem, exceto por alguns detalhes como catapultas de ovelhas). As histórias estimulam nosso espírito de aventura.

Escolhas da vida moderna

Viver bem neste mundo cada vez mais complexo não acontece espontaneamente. Se você já foi contaminado pelas síndromes da vida moderna, deve se sentir culpado por não ler toda a informação disponível, não dar a sua família o tempo e conforto que ela merece, não ter o sucesso profissional ou um currículo invejável, não ajudar a todos os que precisam de você e contribuir para salvar o meio-ambiente, não participar de tudo o que está na moda, como bares, viagens e, claro, o seu visual.

Estar diante de muitas opções requer uma maturidade, ou então você se sentirá eternamente frustrado por não dar conta de tudo. Ainda não conheci uma pessoa sempre admirável e que tenha sucesso em todos os aspectos da vida. Atenção amantes da liberdade, estas mudanças proporcionam uma oportunidade única de exercer o poder de escolha, de desenvolver um estilo de vida próprio, baseado em seus valores e sua personalidade. Que maravilha ter acesso a tanta informação, tecnologia e conforto.

As gerações anteriores precisavam viver de uma determinada forma por não terem escolha, os pais ou outras autoridades tomavam as decisões por eles, de carreira a casamento. Não tinham um leque tão grande de opções nem tantos obstáculos a enfrentar e, quando erravam, não eram tão cobrados por isto. É verdade que a limitação não é uma maravilha, mas o excesso é exaustivo.

O que nos aprisiona hoje? Continuamos deixando que outras pessoas façam as escolhas por nós, muitas vezes de maneira sutil. Quantas coisas fazemos sem saber o motivo, porque todos fazem, para agradar ou impressionar? Quantas pessoas comuns seguimos, esquecendo que elas não são exemplo em tudo (as vezes só tem uma boa comunicação)? Quantas loucuras financeiras fazemos gerando problemas para o nosso futuro e de nossa família? Nunca houve tantos vícios e eles também nos escravizam.

Cada decisão gera dúvidas, responsabilidades, consequências, possíveis arrependimentos, frustração por dizer não às outras opções, novas mini-escolhas associadas. E isso impacta diretamente na nossa felicidade e produtividade. O mais importante é ser realista e humilde para reconhecer que não precisamos e não podemos tudo – não temos tempo, dinheiro e energia disponíveis para ficar com todas as opções. Melhor escolher bem só o que é realmente importante como moradia, companhias, carreira, viagens, tipo de alimentação e exercício. As micro decisões podemos reduzir, simplificar e automatizar. Este é o meu segredo, e o seu?

POR QUE COMPRAR?

Trago algumas sugestões de perguntas inteligentes para você fazer no ato da compra. Nesta ordem.

 

SINAL VERDE

 

Preciso?

Este gasto será útil.

Satisfaz uma necessidade minha.

Está na minha lista.

Ainda não tenho.

Combina com o meu estilo de vida.

Cabe na minha rotina.

Melhora minha vida.

 

Posso?

Vou pagar agora e de preferência à vista.

Consigo arcar com os custos da manutenção.

É possível conciliar com meus outros gastos.

Cabe na minha receita.

 

É um bom negócio?

O preço é justo ou abaixo do mercado.

Amanhã pode não estar disponível.

Já pesquisei em outros lugares e sei o quanto vale.

Confio no produto / serviço e fornecedor.

 

SINAL AMARELO

 

Me apaixonei?

Me identifiquei.

É perfeito, lindo, chique e moderno.

Quero mais do que tudo.

É a minha cara, meu número e de mais ninguém.

Tem que ser meu custe o que custar.

 

Acabei de receber?

Me sinto rico/a.

Agora eu posso.

Mereço depois de trabalhar tanto.

O dinheiro é meu e eu faço com ele o que quiser.

Cabe no meu saldo de hoje / limite do cartão.

 

Vou usar mesmo?

Na verdade, já tenho algo parecido.

Eu nunca teria a ideia de comprar isso se não tivesse visto.

Ficou lindo na vizinha e… talvez ela pudesse me emprestar ou trocar.

É um antigo desejo, mas que agora não faz mais sentido.

Não acrescenta muita coisa na minha vida.

 

SINAL VERMELHO

 

Fere meus princípios?

É barato demais ou caro demais.

É pirata ou de origem obscura.

Prejudica alguém.

Terei que mentir sobre este gasto.

Vou deixar de pagar uma conta importante para me mimar com isso.

Depois eu vejo como pagar.

 

É um dia de pânico / tristeza / ira / euforia?

Aconteceu algo muito bom ou muito ruim hoje, dia errado para tomar decisões inteligentes, financeiras ou não.

Há várias maneiras de se resolver os problemas e a shoppingterapia não é a melhor delas.

 

Perdi o controle das finanças?

Há algum tempo que não olho meu saldo, receita, despesa, extratos e faturas.

Tenho usado o limite do cheque especial e dos cartões de crédito.

Essa decisão imediatista vai atrasar minhas metas para o futuro.

Não planejo as finanças e vou gastando conforme as promoções aparecem.

 

Andréa Voûte

Serei um polvo benevolente ou um eremita humilde

Visualize este paraíso: você tem liberdade, independência e autonomia. Você escolhe o que fazer com o seu dinheiro. Você pode fazer o que ama, trabalhando com as pessoas certas, recebendo o valor justo, dentro do prazo conveniente. Quando você enriquece, outros aspectos de sua vida além do material melhoram, você compartilha generosamente a riqueza e as pessoas lhe retribuem com gratidão. Quando você passa por dificuldades, age com discrição e poupa as outras pessoas de envolverem-se em seus problemas dos quais elas não tem culpa. Suas bênçãos o tornam um polvo benevolente e poderoso e suas maldições o tornam um eremita humilde.

Agora vamos à realidade.

Você vai indo bem e prospera a cada dia mais. Investe em coisas que acredita e gasta no que gosta, melhorando de vida. Naturalmente quer levar em sua excitante jornada todos os que você ama e os que se encaixariam bem em seus promissores projetos. Tem certeza de que irão atingir metas incríveis juntos e alcançar novos patamares, evoluindo continuamente e sendo cada vez mais felizes! É verdade que o dinheiro pode comprar liberdade e controle, mas isso tem limites, ainda bem.

Ninguém tem obrigação de te acompanhar, convide sem manipular. Nem todos estão preparados para subir, muitos não querem crescer, alguns temem qualquer mudança. Respeite-os no ponto em que estão, ajude-os sem forçar e ame-os como são. Talvez em um outro momento e talvez não com você, compreenda isso. Algumas pessoas começam junto e desistem, tentam mas não conseguem, paciência. Respeite a individualidade, o ritmo e o direito de errar de todos. E ainda tem as decepções ao realizar alguns planos e ver que nem tudo é o que esperamos e nem todos adaptam-se à nova vida.

Cada degrau que você subir junto com as vitórias pede escolhas complicadas. Romper laços com quem ficou na escala anterior, formar novos grupos, voltar um degrau e puxar alguém que ficou, empurrar quem não tem forças, enfrentar quem bloqueia a subida. Leve quem se dispuser voluntariamente e quem estiver preparado. Cuide do seu desenvolvimento e conquiste a sua privacidade, selecione os companheiros e afaste os interesseiros.

Em outro momento, você vai indo mal e se endivida a cada dia mais. Os problemas se multiplicam e fogem ao seu controle, prejudicando o seu futuro e outros aspectos da sua vida que não tem nada a ver com as finanças. Naturalmente você não quer levar ninguém para o fundo do poço, mas não há como evitar, você está fraco e caindo. Trouxe problemas a quem menos desejava e às vezes nem viu ou entendeu como. O alcance da sua pobreza vai se ampliando automaticamente, criando novas dívidas.

Você pode querer resolver tudo sozinho mas não consegue, pede ajuda e se depara com avareza ou recebe apoio inesperado sem pedir. Situações extremas e difíceis podem revelar o melhor ou o pior das pessoas. É preciso resolver o quanto antes e da melhor maneira possível, afetando menos gente em um grau não tão comprometedor.

A riqueza é mais fácil de organizar e administrar do que a pobreza. Com o sucesso, você tem mais espaço para planejar e agir dentro do plano. O fracasso invade e não te permite tanta liberdade, ele restringe o seu poder de ação. Não há garantia de nada, mas o impacto das boas notícias é mais previsível do que o impacto das más notícias. É mais fácil escolher quem levar para o alto da montanha do que escolher quem arrastar ladeira abaixo.

 

Andréa Voûte
imagem free de Ben Dumond para Unsplash

Quanto vale a sua imagem?

Há fases em que montar o visual é um prazer, podemos nos dar este luxo e queremos encantar. Há pessoas para quem a aparência é da maior importância e irão julgar-nos e deduzir coisas sobre nós a partir do que estão vendo. Há situações em que a imagem impacta nosso futuro, traz lucro ou prejuízo e pode abrir ou fechar portas. Sabemos que o nosso estilo comunica e que a primeira impressão fica. Sendo assim, arrumar-nos com pressa ou ficar em casa de qualquer jeito não é a melhor coisa a fazer.

Quando temos pouco dinheiro para investir no vestuário e no salão, precisamos recorrer à criatividade e ao planejamento. Podemos aprender a costurar, tricotar e bordar ou fazer visitas aos sapateiros, costureiras e alfaiates para consertos. Aprender a cuidar das unhas, pele e cabelo certamente é muito útil. Consulte os artigos “Com que roupa eu vou” e “Autonomia nos cuidados pessoais” aqui do blog da Voute Contar. Não repetir o figurino pode custar muito caro para nós e para o meio-ambiente, dá para variar e manter uma boa imagem sem falir.

Perder tempo todos os dias – às vezes mais de uma vez por dia – escolhendo e combinando roupas e depois acessórios, cabelo, maquiagem, sobrancelhas e barba, interfere na produtividade. Para isso o “armário cápsula” pode ajudar e não precisamos obedecer aos números (de 15 a 50 peças) como se fosse uma seita religiosa. Podemos  escolher nossas peças favoritas e algumas mais clássicas, fáceis de combinar com outras.

Sabemos que chamar a atenção para o nosso exterior pode distrair os outros e atrapalhar o que realmente importa. Quando o conteúdo da conversa é a prioridade, por exemplo em uma reunião de trabalho ou em uma aula, qualquer aspecto da aparência que desvie a atenção não é bem-vindo. Isso requer cuidados básicos, inclusive de higiene, além de evitar excessos para não ter nada tão bom ou tão ruim que grite mais alto que a nossa voz.

Em um determinado meio, quanto mais arrumada a pessoa, maior a auto-estima, popularidade, poder. No outro grupo, o mesmo cuidado com a aparência será considerado futilidade e desperdício de tempo. Isso já diz muito sobre o tipo de grupo que frequentamos. Há momentos de nos destacarmos e outros de nos igualarmos e a arte de saber diferenciá-los exige inteligência emocional. Muitas pessoas preferem ter roupas de trabalho padronizadas como um uniforme e deixam para inovar e ousar na hora de sair (dependendo da profissão).

Você hoje está em que fase? Quanto tempo e dinheiro gasta por ano com a sua imagem? Que retorno este gasto te traz?

Andréa Voûte

imagem free de DreamsTime

TEM O SUFICIENTE PARA TODOS?

Se você acompanhou os números divulgados no Dia da Água e Dia da Terra, já tem uma ideia dos problemas climáticos e ambientais atuais. Estamos abusando do limite da Biocapacidade do planeta, ela tem diminuído pela degradação dos solos e mares. Já estamos roubando recursos das próximas gerações.

A pegada ecológica é medida nas empresas, cidades, países e pode ser medida por pessoa. Cada país é avaliado como credor ou devedor do meio-ambiente. Se todos consumissem como os americanos, precisaríamos de 5 planetas Terra. Um paulistano típico gasta 200 litros de água e produz 1 kg de lixo por dia. Os 20% mais ricos do mundo consomem 76% dos bens e serviços da Terra, a classe média que representa 60% das pessoas é responsável por 20% do consumo e os 20% mais pobres consomem somente 4% dos bens e serviços. Os números só não são piores e a devastação do meio-ambiente só não é maior porque há países muito pobres com baixo consumo e emissão de poluentes, como algumas regiões do continente africano, que só tem 15 litros de água por pessoa por dia em média.

Calcule a sua pegada ecológica em termos de água, energia, alimentação, consumo, descarte e transporte no teste da WWF:  http://www.pegadaecologica.org.br/2015/index.php  e analise sua rotina para identificar se nela há algumas destas práticas:

Consumismo: refere-se a um modo de vida orientado por uma crescente propensão ao consumo de bens ou serviços, em geral supérfluos, em razão do seu significado simbólico (prazer, sucesso, felicidade), frequentemente atribuído pelos meios de comunicação de massa. Quando se torna doença, chama-se Oniomania.

Obsolescência programada: é a decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar, distribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não-funcional especificamente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto.

Ostentação: é o ato de, com muito excesso e orgulho, exibir realizações, posses ou habilidades de si próprio, com vaidade e pompa, bens, direitos ou outra propriedade, normalmente fazendo referência à necessidade de mostrar luxo, riqueza ou poder.

Avareza: é a dificuldade e o medo de perder algo que possui, como bens materiais e recursos. Uma pessoa avarenta não quer abrir mão do que tem mesmo que receba algo em troca, tem cuidado com seus pertences e é egoísta.

Colecionismo: é a prática que as pessoas têm de guardar, organizar, selecionar, trocar e expor diversos itens por categoria, em função de seus interesses pessoais. Há vantagens como aprender a classificar e aprender sobre o objeto colecionado, e há desvantagens por gerar acúmulo em excesso.

Ganância:  opondo-se à generosidade, é uma vontade de possuir tudo que se admira para si próprio. É um desejo excessivo direcionado principalmente à riqueza material ou poder. Com ela você pode corromper terceiros e se deixar corromper, manipular e enganar chegando ao extremo de matar.

Alguns movimentos estão surgindo para solucionar os problemas atuais, escolha os seus:

Minimalismo: Com o lema “menos é mais”, o minimalista reduz a quantidade de bens, de compras, de serviços, mas não necessariamente reduz os gastos, o conforto e o luxo. Ele só evita os excessos, a complexidade e o desperdício. Tem estreita relação com o Essencialismo, do livro de Greg McKeown, que busca fazer menos mas melhor

Frugalismo: O frugalista sim, gasta menos, normalmente é naturalista e fica no básico. Ele consome menos, mas pode ser um acumulador porque reaproveita, conserta e reutiliza coisas. Muitos desenvolvem autonomia e habilidades manuais no estilo DIY (Do It Yourself ou faça-você-mesmo). Um exemplo é a Compostagem, que transforma restos de comida em adubo e nos aproxima do Lixo Zero.

Simplicidade voluntária: ter uma vida mais simples voluntariamente e voltar-se mais para o seu interior, mais para o “ser” do que para o “ter”. Muitos dão menos atenção ao lado material da vida para focar no emocional, intelectual ou espiritual.

Consumo consciente: Ao ter consciência das consequências na hora de escolher o que comprar, de quem comprar e definir a maneira de usar e como descartar o que não serve mais, o consumidor pode maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos, desta forma contribuindo com seu poder de escolha para construir um mundo melhor. Uma meta do consumidor consciente é praticar os 7 Rs da ecologia: repensar, recusar, reduzir, reparar, reutilizar, reciclar e reintegrar.

Slow food: em oposição ao Fast Food, o Slow Food (em inglês, literalmente, “comida lenta”) é um movimento e uma organização não governamental fundados por Carlo Petrini em 1986, tendo como objetivo promover uma maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o meio ambiente.

Economia solidária: é definida como o “conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo solidário, troca, comércio justo, poupança e crédito – organizadas sob a forma de autogestão. Trata-se de uma forma de organização centrada na valorização do ser humano e não do capital, caracterizada pela igualdade. Ela está ligada à Economia Colaborativa e o Capitalismo 2.0, que preferem dividir e colaborar do que acumular, criando novas formas de fazer negócios.

Empresa social: busca associar a expertise do mundo dos negócios empresariais (administração, finanças, economia) com a expertise social das organizações sem fins lucrativos, trata-se de um híbrido dos chamados segundo e terceiro setor, denominado por alguns como setor 2.5 (dois e meio).

Feiras de trocas: são uma maneira engajada e divertida de repensar a forma como consumimos, envolvendo adultos e crianças com o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre as consequências do consumismo, e minimizar e prevenir os prejuízos decorrentes dele.

Referências: Wikipedia, Criança e Consumo, Slow Food, Ministério do Meio Ambiente.

Direitos não muito direitos

O Código de Defesa do Consumidor foi um grande avanço sem dúvida. A dúvida é sobre os abusos que alguns consumidores cometem. Será que sempre devemos fazer o que temos o direito de fazer? Eu acho que depende do caso.

Consumir somente um café e uma água e ficar horas trabalhando ou batendo papo no café não é proibido. Devo me lembrar que ali não é minha casa e que custa muito caro manter uma infraestrutura de móveis, pessoas, limpeza, alimentos, bebida, empresa aberta, etc.

Se a minha conta vier errada eu posso exigir que o valor cobrado a mais seja devolvido em dobro. Será que foram tantas perdas e danos assim que justifiquem dar esse prejuízo aos proprietários do estabelecimento?

A loja claramente errou na etiqueta do produto colocando um dígito a menos e eu tenho o direito de levar o produto pelo preço da etiqueta. Posso, mas não preciso.

Comprei um vestido em loja virtual, desfilei com ele por um dia e devolvi no dia seguinte. Estou exercendo o meu direito, mas não é direito fazer isso.

Saí e passei em vários lugares. Quando chego ao carro que deixei no estacionamento, vejo que o meu celular novo e chamativo sumiu, eu não faço ideia de onde o perdi e perguntando em todos os lugares ninguém encontrou. Vou responsabilizar o estacionamento só porque ele tem um seguro?

Perdi a comanda e não me lembro exatamente do que consumi, mas o garçom se lembra e não é nada absurdo. Vou discutir com ele?

Fiquei muito irritada com um defeito em meu eletrodoméstico e a empresa está demorando para solucionar. Vou reclamar na Internet e acabo me excedendo nos comentários. Queria o eletrodoméstico consertado ou vingança?

Recebi um cartão de crédito sem tê-lo solicitado. Preciso processar o banco por isso?

Estar claramente desmotivado e improdutivo no trabalho atual e ficar provocando o empregador para ser demitido ao invés de pedir logo para sair pode até ser legal, mas é correto?

Se abusarmos de nossos direitos, podemos acabar perdendo alguns deles, abrindo espaço para que amanhã a lei mude ou até sendo obrigados a indenizar os danos que causamos ao fornecedor. Melhor pensar bem se não há formas mais limpas e pacíficas de economizar.

Andréa Voûte

Leve x pesado

Imagine aquela pessoa que se orgulha de não ser materialista, que tem horror a mesquinharias e raramente fala sobre dinheiro, especialmente à mesa. É uma pessoa leve, alto astral, que sempre acredita que as coisas vão melhorar. Prefere assuntos agradáveis e boas notícias, adora humanas e odeia matemática. Não procura problemas, evita conversas pessimistas, irrita-se com gente que fica falando o que ela não pode fazer. É do tipo que segue o coração, que afirma que pessoas são mais importantes do que coisas e para certos assuntos não se faz conta. É a alegria da festa e sempre topa um programa de última hora. Está sempre ligada no que realmente importa na vida e o dinheiro não compra – o lado espiritual e humano – nunca no material. Algumas decisões mais racionais ela vê como vender a alma ou ser uma pessoa fria. Orçamento prende, lucro é pecado, economistas são tensos, financistas são medrosos e economizar não resolve.

Corta para 20 anos depois. Na vida adulta, ela tem dependentes e contas para pagar, passou por crises financeiras e altos e baixos na carreira como a maioria de nós. Ela não quis administrar o dinheiro e hoje administra dívidas. Ela não planejou a aposentadoria e agora tem perspectiva de uma velhice difícil. É refém das contas que não gostava de fazer, é obrigada a calcular e recalcular cada passo. Os cortes no orçamento dos quais tanto fugiu a alcançaram e a obrigaram a escolher que contas não pagar, agora com menos liberdade. O dinheiro que desprezava é de “quem” ela muitas vezes passa dias correndo atrás. As pessoas a quem ela realmente valoriza foram prejudicadas direta ou indiretamente pelas suas dívidas. Os graves problemas financeiros abalaram os relacionamentos, o sono, a saúde, a reputação, autoestima e até a fé, por sentir-se culpada, revoltada e impotente ao mesmo tempo. Ironicamente, quem era tão leve e se alegrava com isso, hoje é uma pessoa pesada e tensa. Quem não queria prender-se a planos e limitações, hoje não consegue voar.

Ficção baseada em fatos reais, coisas que já vi e ouvi inúmeras vezes. Não dá para ser tão desligado de dinheiro assim, a não ser que você esteja disposto a largar tudo dos tempos atuais e da vida comum. Organize as finanças começando hoje!

Andréa Voûte

(imagem free de Jenelle Ball para Unsplash)

Extratos – essa leitura chata

Por favor, pelo bem de sua inteligência financeira, não pague contas sem saber, esteja consciente do que está sendo cobrado, especialmente dos débitos automáticos. Os lançamentos das suas contas correntes e de investimentos devem ser acompanhados de perto, no mínimo uma vez por semana e comparados aos seus controles. O mesmo vale para as faturas dos cartões de crédito, contas de telefone, energia elétrica, etc.

Fique atento ao que está acontecendo com o seu dinheiro, assuma o controle de suas finanças! Você como consumidor ao pagar contas deveria saber a que elas se referem. E você como empresário ao receber em cartão deveria acompanhar os extratos de sua maquininha porque ali já vi muito prejuízo e até erros. No banco, uma assinatura pode ser renovada automaticamente sem o seu conhecimento. No telefone, você não usa a metade do plano que é superdimensionado para você, mas quando ligam para te oferecer um maior ainda você aceita porque o desconto era bom.

Os extratos trazem abreviações e termos técnicos que desconhecemos, ou pior, temos a impressão que sabemos o que quer dizer, mas é um engano. Se você não entendeu a descrição pergunte e, se determinado lançamento lhe pareceu estranho, procure saber exatamente o que é. Eu já presenciei vários casos de débitos que não deveriam ter acontecido, serviços que não foram contratados e tarifas que foram cobradas indevidamente por meses seguidos! Sim, enganos acontecem e má fé também, aproveitando-se da distração ou comodismo do cliente… Se pagou o que não devia, peça reembolso.

Às vezes um cidadão correto contrai dívidas por ignorar suas obrigações. Por ex. se você tiver uma empresa, seu contador precisa estar muitíssimo bem informado sobre os tributos ou você pode acumular dívidas com o governo e levar um susto de repente. Nomenclaturas estranhas como “recolher” e “reter” um imposto, tantas siglas que mais parecem uma sopa de letrinhas e uma legislação mutante dificultam manter as contas em dia. Fale de vez em quando com o contador, acompanhe notícias e visite os sites do governo para saber mais.

E não se trata só de detectar problemas e investigar fraudes ou abusos. Os documentos aqui citados trazem um pouco do seu histórico: por onde você andou, de quem, quando, como e quanto recebeu, a evolução de seu saldo no decorrer do mês e vários outros números importantes para a consciência da sua saúde financeira e das tendências estabelecidas. A partir deles você monta índices e gráficos que te ajudam a decidir melhor.

Isso talvez seja um ótimo estímulo ao minimalismo nas contas e cartões, reduzindo a complexidade de extratos a acompanhar.

Andréa Voûte