A vulgarização do crédito

Ouvir que uma pessoa ou empresa tem crédito soa como elogio. Podemos entender com isto que ali há o costume de honrar os compromissos, de cumprir a palavra e agir com responsabilidade. Partindo dessa premissa, basta analisar as condições: qual o valor a ser emprestado e de que forma este dinheiro pode voltar para as mãos do credor com algum lucro e menor risco.

Não faz tanto tempo assim que o uso do crédito respeitava um bom senso, apenas em situações realmente urgentes, oportunidades únicas e “casos de vida ou morte”, como se dizia na época. E era comum ver pessoas físicas e jurídicas que ao longo da vida endividavam-se uma ou duas vezes, no exato valor da emergência. A oferta era menor, algum “fiado” era aceitável.

Hoje isto mudou, o crédito está infiltrado na sociedade e quase todos convivem com ele por anos, como se fosse normal ou até necessário. Para que viver a vida que o salário pode pagar se estamos rodeados de ofertas intermináveis de um dinheirinho extra a ser “somado” ao nosso? Isso nos permite satisfazer mais desejos e parecer que temos e podemos muito mais, como aqueles que estão um degrau acima na escala social podem e tem! Não te parece fácil demais?

Permitam-me ser a chata que chama para a realidade àqueles que sentem os limites do cheque especial e cartão de crédito como sendo seus… Isto é um recurso de terceiros, a ser devolvido a um preço bastante alto por sinal. Na prática, quem usar estes recursos para consumo, muitas vezes estará “presenteando” o credor com um valor equivalente, pagando o dobro do que vale aquele bem. Se o uso for para pagar as contas do dia-a-dia, é necessário rever imediatamente o orçamento, ou elaborá-lo, caso não exista ainda.

Como já sabemos, o dinheiro pode ser muito bem utilizado, mas os juros do crédito não são um bom exemplo disso. Dever compromete a liberdade, a dignidade, a honestidade, a paz, o futuro e a qualidade de vida, isso sem falar nos prejuízos materiais… Pense se é realmente necessário cair nesta situação. Pode ser que não haja mesmo outra saída e, neste caso, as escolhas devem ser pesquisadas e planejadas com extremo cuidado, da melhor forma possível.
Andréa Voûte